A carreira da cantora Áurea Martins

Oswaldo Faustino conta a história da carreira da cantora Áurea Martins. Confira

 

TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTO: Sandra Santos | Adaptação web: David Pereira

A cantora Áurea Martins | FOTO: Sandra Santos

A cantora Áurea Martins | FOTO: Sandra Santos

Não. Áurea Martins não é exceção. É regra. Maravilhosos músicos e cantoras, para os quais o sol só brilha durante a noite e a madrugada, são a maioria dos verdadeiros artistas deste país. Por isso, me nego a pensar nela a partir do que não acontece ou não aconteceu em sua carreira. A imprensa brasileira adora fazer isso, em especial com artistas negros – apesar de, ao mesmo tempo, negar a existência do racismo. Prefiro pensar em sua trajetória vitoriosa, seu talento incomparável, a disposição e persistência que fizeram dela uma marca na noite do Rio de Janeiro, há muito mais de meio século.

Para o ator Paulo Gracindo que, na década de 1960, apresentava um programa de calouros pela Rádio Nacional, Áldima Pereira dos Santos não era um bom nome para cantora. A não ser que ela preferisse continuar cantado no coral da igreja de Nossa Senhora do Desterro, no bairro de Campo Grande, na zona Oeste do Rio, onde nasceu. Por isso a rebatizou de Áurea Martins.

A caminhada da cantora já estava traçada muito antes de seu nascimento. A mãe já cantava acompanhada, ao violão, pelo pai, músico profissional. A avó tocava banjo, um tio saxofone e outro clarineta. Além do coral da igreja, passou também pelo conjunto Os Siderais. Daí a contratação ao se apresentar, antes ainda do famoso prêmio, no programa Tribunal de Melodias, comandado por Mário Lago e Paulo Gracindo, na Rádio Nacional. Como contratada, participava também dos programas de César de Alencar e Manoel Barcelos, nos quais também se apresentavam principiantes como Peri Ribeiro e Elis Regina. Sua alma de passarinho queria apenas cantar e voar. E o primeiro voo significativo aconteceu 1969, quando venceu a quarta edição do concurso de calouros A Grande Chance, de Flávio Cavalcanti, interpretando “Pela rua”, de Dolores Duran e Ribamar. E não foi uma vitória qualquer. Aquele programa de calouros apresentado às quintas-feiras pela TV Tupi do Rio e por mais 16 outras emissoras de televisão e 126 estações de rádio Brasil afora, era visto e ouvido por milhões de espectadores. No júri, feras como Carlos Renato, Sérgio Bitencourt, Mariozinho Rocha, Fernando Lobo, Mister Eco, José Fernandes, Hugo Dupin, o pianista Bené Nunes e as cantoras Marisa Urban e Maysa. O prêmio foi a gravação do LP “O amor em paz”, lançado três anos depois, e uma viagem a Portugal.

Mergulhou na noite. Apresentou-se na maioria das casas noturnas de expressão frequentadas pela boemia carioca. Pequenina e de corpo mirrado, conquistou uma madrinha de luxo, a cantora Elizeth Cardoso: “Ela ia me ver cantar nas boates da zona sul e falava sobre mim nas entrevistas. Me colocava entre as grandes. Me dizia que eu estava muito magrinha e me levava pra casa pra tomar gemada”, revelou numa entrevista a um jornal.

Aí vieram suas produções independentes ou por gravadoras pequenas: “Bordões” (1990); “Áurea Martins” (2003); “Outros ventos” (2003); e “Orquestra Lunar” (2007). No início de 2008, lançou o álbum “Até Sangrar”. Por conta de trabalho, concorrendo com Marisa Montes e Rosa Passos, conquistou no ano seguinte o Prêmio da Música Brasileira – o antigo Prêmio Sharp e, depois, Tim –, como “melhor cantora”. Seus álbuns mais recentes são: “De Ponta Cabeça” (2010) e “Iluminante” (2012), também em DVD.

O cineasta Zeca Ferreira, filho de Cristina Buarque de Hollanda, irmã do Chico, dirigiu o curta metragem “Áurea”, que acompanha apresentações da cantora numa única noite, em 2009. A intenção do cineasta era não glamourizá-la, mas apresentá-la como uma trabalhadora como todos os demais profissionais das casas noturnas, clubes, salões de baile, como o Bola Preta, e boates, em que ela se apresenta noite após noite. O filme se encerra com o retorno da cantora, de ônibus, para Campo Grande. Principalmente por causa da sofisticação de Áurea Martins, no palco, que se mescla com sua simplicidade, o curta já conquistou mais de 20 prêmios em festivais.

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