A HISTÓRIA DE CÉCILE KYENGE CONTRA O RACISMO

Saiba como a primeira ministra negra da Itália reagiu aos casos de racismo que sofreu

 

TEXTO: Daniel Keny e Fernanda Alcântara | FOTO: Divulgação/Reuters | Adaptação web: David Pereira

A ministra Cécile Kyenge | FOTO: Divulgação/Reuters

A ministra Cécile Kyenge | FOTO: Divulgação/Reuters

Poucos políticos no mundo tiveram uma introdução à vida pública tão complicada como a enfrentada porCécile Kyenge. Entre os novos membros do governo italiano, Kyenge foi nomeada ministra da integração pelo Primeiro-Ministro Enrico Letta, conquistando o feito de ser a primeira negra a chegar ao governo do país. Sua postura firme em relação ao tratamento dado aos imigrantes tem sido motivo de comentáriosracistas por parte de elementos da extrema-direita italiana. No começo de sua carreira política, atiraram-lhe bananas durante um comício e os insultos são até hoje frequentes na internet.

Cécile tem 48 anos, nasceu na República Democrática do Congo e mudou-se para a Itália há 30 anos para estudar. Formou-se em Oftalmologia, mas enquanto não obteve uma bolsa, passou um ano na clandestinidade e teve de trabalhar para concluir o curso de medicina. Em 1994, casou-se com um cidadão italiano e ganhou a nacionalidade, mas desde abril começou a ser alvo das mais diversas expressões racistas, não só de grupos desconhecidos e assumidamente discriminatórios, mas de políticos italianos na direitista Liga do Norte.

Um dos casos mais impactantes foi o de Roberto Calderoli, vice-presidente da Liga. Em julho, afirmou que a ministra tinha “as características de um orangotango”. Embora tenha sido repreendido pelo primeiro-ministro, Calderoli permanece em sua posição no Senado. Pouco tempo depois, um deputado do Parlamento Europeu disse que a inclusão de Cécile no governo fez dele uma administração “bongo-bongo” e que a ministra parecia ser “uma boa dona de casa, mas não uma ministra”.

Com uma desenvoltura ímpar, a Cécile Kyenge respondeu a cada um dos comentários com paciência, afirmando que a melhor defesa a estas situações é olhar para frente, refletindo sobre as dificuldades que o país tem de suportar estes eventos e sobre as melhores respostas que os políticos e a sociedade podem dar. Cécile defende que os ataques não são contra ela, mas sim contra a instituição que representa. “Tenho sempre presente o percurso difícil da minha vida até agora. Enquanto médica e enquanto ministra, o meu objetivo foi sempre ajudar os outros”, disse. Segundo ela, as reações aos insultos que ela vê em seu país acabam por unir a Itália “boa” e ajudam a despertar muitas consciências, que durante anos estiveram adormecidas.

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