A HISTÓRIA DO LÍDER LIBERTÁRIO AGOSTINHO NETO

Oswaldo Faustino conta um pouco da história do líder libertário de Angola, Agostinho Neto

 

TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTO: Acervo MPLA/Divulgação | Adaptação web: David Pereira

O poeta e líder libertário Agostinho Neto | FOTO: Acervo MPLA/Divulgação

O poeta e líder libertário Agostinho Neto | FOTO: Acervo MPLA/Divulgação

Se existe alguém que tem o que lamentar com relação ao lançamento dos cinco volumes, com cerca de 900 páginas cada, em papel couchê, da publicação “Agostinho Neto e a Libertação de Angola”, são os funcionários dos Correios. Porém, o peso físico é infinitamente inferior ao do valor histórico dessa obra ímpar, coordenada pela viúva do herói, a escritora portuguesa Maria Eugênia Neto e por sua filha Irene Alexandra Neto. A coleção é distribuída gratuitamente a bibliotecas de universidades e instituições comprometidas com causas libertárias e as de combate ao racismo e de promoção da igualdade e equidade no mundo todo.

A obra é um verdadeiro monumento ao pai da nação angolana, Agostinho Neto, cuja importância vai muito além daquele país africano. Como Nelson Mandela, Abdias do Nascimento e tantos outros e outras, ele se ombreia com as maiores personalidades mundiais do século 20. O primeiro presidente da Angola independente, em 1975, morreu em 10 de setembro de 1979, em Moscou, sete dias antes de completar 57 anos. Líder maior do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, ele foi sucedido na presidência por seu companheiro de luta, José Eduardo dos Santos, ainda hoje no poder. Nascido em 1922, em Kaxicane, a 60 quilômetros do centro de Luanda, ele era filho do pastor metodista Agostinho Pedro Neto, de quem herdou o espírito religioso e humanista, a perseverança e o talento de grande orador, e da professora Maria da Silva Neto, que lhe transmitiu a paciência, a serenidade e o pragmatismo.

História de Agostinho Neto: A obra nos revela que Agostinho Neto nasceu na área de maior índice de população negra instruída, graças à implantação de escolas, ainda no século 17. Fica na região “do antigo reino de Ngola Kiluanji kia Samba, de grandes tradições guerreiras e de resistência ao colonialismo”, conforme descreve a publicação. Ali surgiram os principais nacionalistas que lideraram a luta de libertação angolana.

Paralelamente à sua formação de presbítero metodista, Neto se interessava profundamente pela saúde e higiene de seu povo. Apesar de gostar muito da Matemática e desejar formar-se em Engenharia, conquistou, na própria igreja, uma bolsa de estudos na área de Ciências. Partiu para Portugal e, através de bolsas, cursou Medicina, em Coimbra, de 1947 a 1960. Favorecer a formação acadêmica de estudantes das colônias era uma estratégia da metrópole portuguesa para formar personalidades entre os naturais que viessem a favorecer seus interesses. Mas, na verdade, foi um tiro no pé, pois resultou no surgimento de uma liderança libertária, muito bem formada, pronta não só para levar seus países a se livrarem do jugo colonial, mas também a ajudarem o povo português a derrubar a ditadura salazarista.

Poeta e ensaísta de produção farta e profunda, com atuação na Liga Nacional Africana, Agostinho Neto se tornou marxista e se aproximou do Partido Comunista Português, estimulando o crescimento do Partido Comunista Angolano. Assim, atraiu definitivamente a atenção da PIDE, a polícia política de Portugal, como consta em seu extenso dossiê, e foi detido várias vezes. Não faltam documentos sobre seus acordos com Cuba de Fidel e com a União Soviética, aproveitando a Guerra Fria, para formar um bom arsenal, preparar guerrilheiros e buscar apoio militar. Seus objetivos libertários não se restringiam à política de Angola. Há muito, conscientizara-se de sua negritude, que o encaminhou para o pan-africanismo. Já maduro, objetivava a unidade inter-racial pregada pelo neorrealismo. Folhear as quase 4.500 páginas dessa obra fundamental, mais do que mergulhar na história, alimenta nosso espírito crítico, e responde a diversos questionamentos contemporâneos. Sejam quais forem as respostas, sempre restará em nossa garganta o brado: “Vida longa à nação angolana, sob as bênçãos de seu pai, António Agostinho Neto!”

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