A mulher no hip hop

Em sua coluna, Fábio Rogério fala sobre o forte cenário feminino no hip hop

 

TEXTO: Fábio Rogério | FOTO: Cláudio Lira | Adaptação web: David Pereira

O colunista da Revista Raça, Fábio Rogério | FOTO: Cláudio Lira

O colunista da Revista Raça, Fábio Rogério | FOTO: Cláudio Lira

Dizem que o sistema tende a fazer a mulher sofrer. A mulher, como o homem, cria e idealiza, porque sonha. E sonhar faz parte da vida. No livro “Minha Namorada Virtual”, de Merari Tavares, fui convidado a escrever o prefácio. Mencionei a busca compulsiva por conhecer alguém. Existe o risco, mas acreditar no amor é necessário.

Muitos dos males que as afligem são inexplicáveis. Explicar o bem é fácil, difícil é explicar o mal. Acolher alguém sempre gera benefícios interpessoais. Uma tese feminina diz que a felicidade está por vir. Prefiro pensar que já somos felizes. Este entendimento leva a tristeza ao fim. Claro que existem casos de mulheres que já são geradas em meio a turbulências territoriais, mas cabe a nós, seres humanos, alinharmos os pensamentos mundiais em prol da paz. Cada povo tem que respeitar o outro, por mais oposto que seja.

A mulher sofre com preconceitos antigos, mas continua a conquistar cada vez mais seu merecido espaço. Especialmente aquelas que transmitem confiança e não estão preocupadas apenas com a aparência. Nasci aos 45 do segundo tempo e minha mãe se lembra com saudades de minha chegada. Dona Rosa trabalhou em hospital, e por não ter condições de pagar um fotógrafo, deixou de registrar momentos preciosos das nossas vidas. Mas quem diria que uma menina que brincava com uma espiga de milho imaginando ser uma boneca chegaria tão longe com a sua garra. Sua herança de mãe foi uma máquina de costura que este ano completa quase noventa anos de uso. Ela ajudou minha mãe e me salvou também. Uma de minhas grandes inquietações é ver mulheres dependentes de homens. Mulher que está nesta situação, pense… Hoje você ama, mas amanhã poderá não amar mais ou ser surpreendida. Crie sua independência financeira, pois ser responsável por si é o começo, o meio e o fim!

A mulher no Hip Hop

Elas encararam e, acreditem, muitas mulheres vivem do que alguns homens não conseguem viver: do rap! Quando sou assediado para fechar contratos publicitários e quem está na linha de frente são elas, percebo que a organização e responsabilidade me deixam mais tranquilo quanto ao sucesso do projeto.

Admiro várias vozes femininas, mas quando Sharylaine, a primeira a cantar no Brasil, falou comigo, foi marcante, assim como seu tom.Um dos primeiros sons femininos que também ouvi foi “Comandando Multidões”, da rapper Sweet Lee.

De 1987 pra frente, elas já sabiam que liberdade e responsabilidade não era só conversa de homem: Cris (SNJ), Nicole (Inquérito), Karol (Realidade Cruel), Kelly (Ao Cubo), Dina Di (Visão de Rua), que já se foi, Lauryn Hill, Lauren, Negra Li, Kamilla, Nega Gizza, Flora Matos, DJ Vivian Marques, Tati Laser, Typa e Las Denas. Temos que agradecer a todas.Infelizmente, a Lei Maria da Penha não consegue intimidar homens covardes que agridem mulheres. Ainda bem que há o microfone e os toca discos para ajudarem a dar voz a quem sofre esse tipo de violência.

O hip hop ganhou quando Nega Gizza tornou-se a primeira locutora em rádio com um programa rap. Foi fantástico, pois anteriormente ela já era militante dentro da indústria da música e Pepeu já exaltava a sua importância. Não é de hoje que o rap fala de vários tipos de mulher.O rapper Ndee Naldinho, no álbum que o projetou, “Menos um irmão, chega disso”, relata a história de uma rabugenta, na clássica “De quem é essa mulher?”.

Comando Dmc também contou a história das damas da noite, focando o mercado de prostituição, que em alguns casos acontece por necessidade, por ganância e, em outros, pelo sonho de concluir uma faculdade. Mas, cá entre nós, se pra se graduar algumas têm que vender o corpo, é porque há muita coisa errada em nosso país.

Enfim, como diria Jorge Ben, independente da situação, “preta, branca, pobre ou rica. Bonita ou feia, você é maravilhosa”.Talvez a velha e a nova escola do rap feminino nem tenham tanta proximidade, mas Lady Rap, Sharylaine, Sweet Lee, Nega Giza e Karol Konka contribuem para esta fase na qual não é mais vergonha ser negra.O que vejo hoje é uma autoestima nas ruas, nos trens e nas festas.Aliás, créditos à Revista Raça, que foi uma das responsáveis para que o termo “cabelo ruim” fosse substituído por cabelo crespo.

Angela Davis e demais guerreiras, obrigado por inspirar a tantas mulheres!

Quer ver esta e outras colunas e matérias da revista? Compre esta edição número 188.

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