Asè que emana luz, energia vital e beleza!

 “you call me 
“sister”
not because you 
are my blood
but because
you understand
the kind of tragedies 
we both have endured
to come back to loving
ourselves
again 

again.”
Ijeoma Umebinyuo,2015

 

Esse poema, que integra o livro ‘Questions for Ada, 2015’, da escritora nigeriana Ijeoma Umebinyuo, estava na página da revista digital AfroElle Magazine, quando publicaram uma das fotografias da Coleção Asè, e como texto de apresentação trazia esses lindos e fortes versos. As palavras da artista acionam a idéia de que nós, mulheres negras, consideramos umas as outras como irmãs não por uma questão de sangue, mas porque entendemos os tipos de enfrentamentos que fizemos para recuperar o nosso auto-amor reiteradas vezes.

Segundo o texto de apresentação da revista de Nairobi – Quênia, AfroElle é um site para mulheres de herança africana, cujo objetivo é fornecer conteúdo para mulheres negras ao redor do mundo, a fim de que encontrem empoderamento e encorajamento para construir suas vidas. E esse empoderamento perpassa também pela construção e compartilhamento de fotografias onde aparecemos em nossa diversidade de aparências e culturas.

A moda e suas imagens sedutoras têm sido um dos principais campos de imposição de padrões de beleza e consequentemente de humanidade. Cientes disso, passamos a trabalhar com mulheres cuja beleza exterior está conectada com suas histórias de vida, algumas delas sem ter tido experiência como modelos. Na série de fotografias assinada por Helemozão, talentosa fotógrafa baiana convidada a integrar a equipe por compor uma assinatura especial ao retratar peles negras,  conseguimos falar sobre espiritualidade – mas sem usar elementos considerados sagrados como os fios de conta ou cobrir a cabeça, por exemplo – e ao retratar mulheres com silhuetas diferentes e de pele preta, intentamos debater o imperativo da magreza e o colorismo como aspectos que geram hierarquias entre nós.

Com um time de pessoas potentes envolvidas nesse trabalho, essas imagens nas redes sociais têm provocado um sem número de curtidas e contribuído à problematização sobre a ascenção ainda quase exclusiva de mulheres negras de pele clara e cabelos cacheados. As modelos que interpretaram as cenas fotografadas são Luma Nascimento, pedagoga, pesquisadora e realizadora cultural; Anita Costa, dançarina e Kota Kamukengue do Nzo Mungongo Lembeuaji Junçara; Carla Akotirene,  assistente social e doutoranda em Estudos Feministas. Essas três mulheres se conectaram plenamente ao conceito da coleção pois emanam aquilo que são: Força e Luz!

A coleção Asè nasce com inspiração nas marcas da afrobrasilidade, sob o impacto do retorno à terra de onde saíram nossos ancestrais, reverenciando nossa história de negritude no Brasil. O ponto de partida é o imaginário alimentado durante décadas, por meio da oralidade, de rituais religiosos e culturais, por africanos escravizados no Brasil, de retorno à nossa terra original. Asè fala sobre o protagonismo das mulheres negras nas religiões de matriz africana por meio da predominância da cor branca, tecidos leves e fluidos, enriquecidos por bordados manuais, traduzidos em peças que são as bases para as rendas artesanais e outras técnicas de beneficiamentos de tecido, que fazem menção à essas Rainhas que são as Iyalorixás, Mestras da Jurema, Umbanda, Xangôs do Nordeste, Candomblés de Caboclo… Mulheres negras que nos espaços religiosos têm garantido o seu protagonismo e autonomia, diferentemente do lugar de subalternidade que muitas de nós ocupamos cotidianamente e que impõe a luta constante contra o racismo. Na leveza da espiritualidade, transformando a luta em força, Asè emana Luz, energia vital e beleza!

Coleção Asè, 2016. Modelos: Luma Nascimento, Anita Costa e Carla Akotirene. Fotografia: Helemozão.

(Fashion Film)
Coleção Asè, 2016.
Modelos: Luma Nascimento, Anita Costa e Carla Akotirene.
Vídeo: Edgar Azevedo.

CAROL BARRETO

Mulher Negra, Feminista e como Designer de Moda Autoral elabora produtos e imagens de moda a partir de reflexões sobre as relações étnico-raciais e de gênero.  Professora Adjunta do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade – FFCH – UFBA e Doutoranda no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade – IHAC – UFBA, pesquisa a relação entre Moda e Ativismo Político

 

*Este artigo reflete as opiniões do autor. A Revista Raça não se responsabiliza e não pode ser responsabilizada pelos conceitos ou opiniões de nossos colunistas

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