CASAIS INTER-RACIAIS NO BRASIL

Conheça a história de alguns casais inter-raciais do Brasil

 

TEXTO: Ana Carolina Castro | FOTOS: Arquivo Pessoal | Adaptação web: David Pereira

Andreia Batista e Erison "Pingo"  FOTO: Acervo Pessoal

Andreia Batista e Erison “Pingo”
FOTO: Acervo Pessoal

A empresária Andreia Helena Batista, de 37 anos, sempre se sentiu atraída por homens negros. Quando conheceu Erison Carlos dos Santos “Pingo”, de 34 anos, se apaixonou. Em seis meses já estavam casados. O carioca,que já jogou em grandes clubes como o Corinthians, ainda estava no início da carreira como atleta. “Nós moramos em Curitiba durante um tempo, enquanto meu marido jogava no Atlético Paranaense. Lá, nós notávamos que as pessoas nos olhavam torto quando frequentávamos alguns lugares, como restaurantes caros. Apesar disso, acredito que talvez eu não tenha sofrido tanto preconceito graças à profissão dele. Nós tínhamos uma condição financeira muito boa, tínhamos um bom carro, íamos a bons lugares… Mas os olhares sempre aconteceram e ainda acontecem. Nunca passei por uma situação direta de ofensa, mas quando percebo o estranhamento das pessoas, faço questão de tratar bem e mostrar que somos felizes. A cor da pele não significa nada”, contou Andreia.

Apesar de o marido estar longe dos campos há algum tempo, a empresária ainda luta contra o estereótipo de maria-chuteira – intensamente associado a mulheres loiras que se relacionam com jogadores de futebol. “É algo com que a gente aprende a lidar. Hoje, quando conheço alguém faço questão de contar como nós nos conhecemos e explicar que nossa história é antiga. Estamos juntos há 14 anos. Quando nos conhecemos eu ganhava mais do que ele, que ainda estava no juniores e nem sabia se a carreira no esporte ia dar certo”, explicou. Ela admite ainda que tem certeza de que sua condição financeira acaba minimizando as manifestações racistas.

O casal tem uma filha, Tiffany, de 10 anos, que apesar da pouca idade, infelizmente já conhece a face dopreconceito. “Minha filha estuda em uma boa escola particular e já sofreu preconceito lá. Por causa do cabelo afro – que ela mantém com muito orgulho e estilo – algumas crianças a apelidaram de poodle. O tom pode até ser de brincadeira, mas é um apelido pejorativo”, contou Andreia. Os pais se preocupam em manter um diálogo aberto com a menina, tentando mostrar que ela deve desenvolver um estilo próprio que valorize quem ela é, independentemente da opinião alheia.

Luana Crescencio e Luis Gustavo da Silva | FOTO: Acervo Pessoal

Luana Crescencio e Luis Gustavo da Silva | FOTO: Acervo Pessoal

Mais um exemplo de casal inter-racial: Luana Crescencio e Luis Gustavo da Silva, ambos de 30 anos – ela negra, ele branco –, também convivem com constantes situações de racismo velado, silencioso. Frequentadores da mesma igreja, os dois se conheceram em maio de 2013. A aproximação aconteceu depois que a bancária teve seu carro roubado e passou a receber carona do analista de compras até em casa. O infortúnio foi o pontapé inicial para o inicio de um namoro, que já dura 9 meses.

Compartilhando a paixão por música, os dois veem na diferença da cor de pele um mero detalhe. A visão, no entanto, não é partilhada por todos. “Sempre somos alvos de diversos olhares, alguns surpresos, outros curiosos. É triste, pois o racismo está sempre pairando. Acho que mesmo com o aumento de casais inter-raciais, muitas pessoas ainda acham diferente um casal como o nosso, formado por um homem branco e uma mulher negra. Quando entramos em algumas lojas ou frequentamos alguns restaurantes sempre acabam nos tratando de forma diferente”, contou Luana, completando ainda que sempre reage “da melhor forma possível, com muito senso de humor e educação em primeiro lugar”. “Certa vez, enquanto passeávamos em um shopping de São Paulo, percebemos muitos olhares curiosos, como se fôssemos fazer algo inadequado”, contou Gustavo.

Apesar dos olhares tortos que recebem quando vai a lugares públicos, o casal não considera a relação difícil. Para Gustavo, não existe problema em se relacionar especificamente com pessoas de outras etnias. “Um relacionamento vai muito além da cor da pele. Quando existe sentimento, tudo é superado.”

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