Como era o carnaval antigamente

Nosso colunista Moisés da Rocha escreve sobre os antigos carnavais de São Paulo. Confira

 

TEXTO: Moisés da Rocha* | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira

O colunista Moisés da Rocha | FOTO: Divulgação

O colunista Moisés da Rocha | FOTO: Divulgação

“Ah! Antigamente é que era bom!”. Quando alguém com mais de sessenta anos faz essa afirmação é imediatamente chamado de saudosista, desatualizado e tantos outros adjetivos. É claro que não pretendemos voltar a brincar com lança-perfume, bisnagas, de smoking ou corso com chauffeur nas principais avenidas, como a Paulista, mas, o que se via era a participação do povo, em todos os níveis, naquilo que os da antiga chamam de “verdadeiro carnaval”. Eram os tempos em que as famílias participavam, de fato, do carnaval. Nos clubes havia matinê para a criançada, nas ruas os chamados cordões e bandas se desfilavam à vontade, fantasiados ou não, sempre com muito bom humor. Sempre sorridentes, sempre expressando felicidade, mesmo que fosse apenas nos dias de Momo. É bom lembrar também que as fantasias de índio, pirata e palhaço sempre estiveram em alta.

E o carnaval de hoje, depois do advento da televisão? É regra o desfile carnavalesco apresentar fantasias e alegorias suntuosas para um público que conseguiu comprar os caros ingressos de arquibancadas e camarotes simples. Nos camarotes de luxo, então – os vips -, rola de tudo um pouco. Até samba rola um pouco. Nos intervalos, normalmente tocam os hits do momento e, claro, não é o samba. Desfile também é muito pouco visto, pois, afinal, a festa é o grande pretexto para as “personalidades de plantão” aparecerem na mídia e os interesses estão dentro do camarote, e não na passarela. Ao final do desfile, as madrinhas e as rainhas de bateria voltam para os camarotes e o pessoal da comunidade volta para seu bairro, socado dentro de ônibus alugados.

São Paulo tornou-se uma cidade triste, carrancuda e violenta, com sua periferia há muito tempo abandonada, com eventos culturais acontecendo somente no centro, na maioria das vezes. Mas nem tudo está perdido. Recentemente – dia 2 dezembro, Dia do Samba -, em belíssima solenidade realizada no Theatro Municipal, a Secretaria Municipal de Cultura, através de seu titular Juca Ferreira, anunciou o tombamento do Samba Urbano de São Paulo, como patrimônio imaterial, sendo em seguida realizado com grande sucesso o Seminário do Carnaval e Celebrações de Rua de São Paulo, do qual participaram representantes do Brasil e do exterior, o que nos proporcionou ótima troca de informações, de experiências. Isto certamente ajudará muito na retomada das manifestações carnavalescas com a efetiva participação da população, inclusive da comunidade periférica.

Esperamos que o povo paulistano seja estimulado a se organizar e brincar os seus antigos carnavais, aumentando o hoje reduzido número de bandas e blocos carnavalescos, a exemplo do que aconteceu no Rio de Janeiro. Deveriam ser incentivados também os bailes carnavalescos, até com concursos de fantasias, nas associações, clubes e espaços públicos, de preferência gratuitos. Seria a ocasião propícia para ver e ouvir o povo divertindo-se, participando e conscientemente fazendo suas críticas e reivindicações, através de sambas, marchinhas e alegorias.

Afinal de contas, os que têm muito dinheiro e não se misturam, em épocas assim, vão para as fazendas, balneários ou para o exterior. Ainda bem!

* Moisés da Rocha é Radialista e responsável pela criação do programa O samba pede passagem

 

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