Conheça o hip-hop colombiano

Como no Brasil, o hip-hop também é a voz da periferia na Colômbia, retratando a desigualdade, a violência e os pequenos momentos de felicidade. E depois do sucesso do Asilo 38, no início da década, chega a vez de bandas como Choc Quib Town mostrarem como a mistura de ritmos pode enriquecer e colocar o rap do país no cenário internacional. Saiba mais sobre o hip-hop colombiano

 

TEXTO: Marco Antonio Miguel | Adaptação web: David Pereira

 

A banda Choc Quib Town faz parte do hip-hop colombiano

A banda Choc Quib Town faz parte do hip-hop colombiano

 

Emerge do interior da Colômbia um fascinante encontro entre hip-hop e ritmos da costa do Pacífico como bunde, curralao, bambazú e aguabajo, além das tradicionais guajira e salsa. O grupo Choc Quib Town faz música para falar do cotidiano do Estado mais pobre e com maior população negra do país – Choco e sua capital, Quibdo. E vem da contração dessas palavras (Choco e Quibdo) o nome da banda formada em 2005 que, um ano depois, lançou o seu primeiro CD, Somos Pacíficos. A canção que dá nome ao disco ganhou as rádios e setransformou em um hino, uma ode à sua região. Em 2010, o Choc Quib Town lançou nos Estados Unidos outro disco, Oro, e com ele ganhou o Grammy Latino com a música DeOnde Vengo Yo. O disco reforça a identidade e unidade do local onde vivem os integrantes do grupo, falando das ruas, das pessoas, das roupas, dos hábitos e, é claro, da pobreza e da desigualdade.

A princípio, o som com rimas fáceis soa bastante alegre, mas não se engane, ele é crítico e irônico. Na canção Oro, por exemplo, o tema é a exploração estrangeira sobre os minérios da região. Destaque também para Pescao Envenao, Son Berejú, San Antonio e La Calle o La Casa.

Outra banda que vale a pena conhecer – apesar de não ser exclusivamente do rap – é a Bomba Estereo. Em sua música mais conhecida, Fuego, sucesso até em jogo de videogame, a vocalista Liliana Saumet vira “rapera”, mas em outras canções suas melodias passeiam por outros ritmos, principalmente a cumbia, difundida em todo o continente. Aliás, essa é a grande marca da Bomba Estereo, que une electro com música tradicional. A banda, formadana cidade de Bogotá, em 2001, é liderada pelo guitarrista Simon Mejía. O disco Blow Up, de 2009, é imperdível, além de Ponte Bomb, EP com remixes e uma versão para a clássica Pump up the jam, do Technotronics.

HISTÓRIA DO HIP-HOP COLOMBIANO

O rap chegou à Colômbia no final da década de 80, quando NWA, Public Enemy e Fat Boys eram timidamente ouvidos pelas vielas dos subúrbios de cidades costeiras, como Barranquilla e Cartagena, até chegarem aos principais centros urbanos do país, como Cali, Medellin e Bogotá.

O bom documentário Resistencia: el Hip-hop em Colombia (disponível no youtube), narra um pouco da história do gênero. É uma boa dica para conhecer os principais grupos do país. Como em todos os países sul-americanos durante a década de 90, os colombianos enfrentaram uma crise econômica em uma nação dividida entre as FARCs e o poder das oligarquias que dominam o país há séculos. Nas periferias, a falta de emprego e de oportunidades derramava o sangue da juventude negra ou indígena.

 

O La Etnnia faz história desde 1995, quando lançou o disco El Ataque del Metano

O La Etnnia faz história desde 1995, quando lançou o disco El Ataque del Metano

 

O hip-hop chegou como válvula de escape para que os jovens pudessem se expressar. Agressivo e ousado, o movimento enfrentou a polícia e os políticos com arte. Essa função social é destacada por muitos rappers. Ao invés da violência entre grupos rivais, a briga era para ver quem dançava melhor, quem era o MC com melhores rimas, qual grafitti mais original… Nessa competição estabeleceu-se uma troca de aprendizado e um sentimento de unidade percorreu os subúrbios das grandes cidades. O hip-hop estabeleceu-se como cultura marginal e disseminou informação e crítica.

Nesse período, dois grupos foram fundamentais e influenciaram a nova geração: Gotas de Rap e La Etnnia. O primeiro lançou seu primeiro disco em 1995, Contra el Muro, que também dá nome ao seu selo independente. A combinação de poesia, críticas e batidas pesadas ganharam a mídia. Com o espaço conquistado, o grupo fundou, no ano seguinte, o coletivo Rap Cartel, criando uma rede entre grupos de rap de todo o país. Em 1998, lançou seu segundo trabalho, Revolución. Pouco tempo depois, o grupo acabou e entrou para a história.

Mais longevo, La Etnnia lançou seu primeiro disco também em 1995, El Ataque del Metano. São oito discos na carreira, sendo que o último se chama La Voz de la Calle. Os integrantes são do bairro “bogotano” de Las Cruces, e começaram dançando break na rua ao som de Afrikabambata.

Outras bandas que integravam esse período foram o Estilo Bajo, C’screw Enlace, Universo Zu, Rappers Spiders, Force Breakers e Raza Ganster. Esses dois últimos abriram as portas para a popularização do rap. O passo seguinte foi dado pelo Asilo 38 – responsável pela consolidação do gênero. Direto da periferia de Cali, seus dois discos, La Hoguera (2000) e La Descarga (2002) foram os primeiros a obter relativo sucesso comercial e se tornaram extremamente populares.

Como acontece em todo o mundo, o hip-hop coloca os problemas sociais em pauta e surge como alternativa de renda para quem deseja trabalhar com música, graffiti, dança e moda. Em toda a Colômbia, entidades como a Família Ayara, que atende 1500 jovens, fazem do hip-hop uma expressão artística e econômica. O Choc Quib Town foi uma das bandas que se formaram através de suas oficinas. Mas nem tudo são flores. Há um longo histórico de mortes de pessoas ligadas ao movimento. Na Colômbia, o rap é uma força política que desafia as armas, usando um microfone e uma pick-up.

 

 

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