ENTREVISTA COM A DIRETORA DO CURTA DIA DE JERUSA

Confira trechos da entrevista com Viviane Ferreira, diretora do curta “Dia de Jerusa”

 

TEXTO: Maitê Freitas | FOTOS: Divulgação | Adaptação web: David Pereira

As atrizes Débora Marçal e Léa Garcia | FOTO: Divulgação

As atrizes Débora Marçal e Léa Garcia | FOTO: Divulgação

Antes de conferir a entrevista, que tal dar uma olhada na sinopse do curta “Dia de Jerusa”?

Trechos da entrevista com Viviane Ferreira:

Como surgiu a ideia para o roteiro?

A história do filme “O Dia de Jerusa” surgiu das minhas observações do cotidiano. Quando estou transitando pelas ruas do centro de São Paulo, algumas pessoas chamam a minha atenção, muitas delas em situações costumeiras, como o que acontece com Silvia no filme. Um dia conheci uma senhora que estava bem amargurada e reclamava do comportamento ausente dos filhos. A dor que aquela mulher transmitia ao falar de sua solidão me marcou de tal forma que senti a necessidade de escrever sobre o tema, então surgiu o roteiro do filme “O Dia de Jerusa”.

Como se deu a escolha do elenco?

Quando eu escrevi o roteiro, imaginava as personagens sendo vividas por profissionais que eu conhecia e admirava. Escrevi Jerusa pensando na Léa Garcia, e Silvia escrevi pensando na Lucelia Sergio (Cia Os Crespos). Quando consegui viabilizar o filme financeiramente, a Lucélia estava grávida e optei por trocar de atriz, então convidei a Debora Marçal. Ganhei um presente, ver Léa Garcia e Débora no set era o encontro da generosidade com a coragem, foi lindo. O elenco composto de atores negros ocorreu com naturalidade.

A atriz Flávia Rosa como Regina | FOTO: Divulgação

A atriz Flávia Rosa como Regina | FOTO: Divulgação

Como você vê a produção audiovisual dos coletivos negros?

A produção audiovisual dos coletivos negros, a meu ver, está cada vez mais representativa e focada, não há mais espaço para alocar as produções dos coletivos na gaveta da “baixa qualidade técnica”. A galera tomou de assalto as ferramentas audiovisuais e tem dialogado bastante, “pau-a-pau” com a produção não negra, e com uma estética própria. No entanto, avalio que ainda falta acesso à estrutura, acesso às políticas culturais e incentivos para que os coletivos negros sofram menos com a voracidade econômica da indústria audiovisual. É nesse cenário complicado que os coletivos negros insistem em continuar produzindo. Por isso o foco é importante, não podemos parar de produzir nunca, o dia em que abandonarmos nossas histórias, nossa estética e nossas subjetividades, significará que o racismo venceu.

Qual o espaço dessas produções nos festivais e circuitos?

Para o circuito tradicional de festivais e meio audiovisual, somos herdeiros de uma trajetória das exceções. Nas décadas de 60 e 70, tínhamos a figura de Zózimo Bulbul nos representando na cinematografia nacional; na década de 80, Joel Zito Araújo chega ao cenário; inicio dos anos 2000, Jeferson Dê é pinçado. Assim vivemos uma história do reconhecimento de um representante da cinematografia negra a cada 20 anos. Hoje, nossa geração produz filmes sonhando em ser selecionada para diversos festivais mundo afora. É desse jeito que rompemos com a trajetória de exceções. Na Odun Formação & Produção, fazemos a avaliação de que ainda sofremos com a ausência de divulgação e cobertura de mídia. A equação é simples, se você fez um filme e ninguém viu, o filme não existe. Se você foi selecionado para um festival e não saiu uma nota em nenhum jornal, revista ou blog, sua seleção não aconteceu.
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