Entrevista com Charles Bolden, o homem da NASA

Veja abaixo trechos da entrevista com Charles Bolden, o homem da NASA.

 

TEXTO: Maurício Pestana | FOTOS: Rafael Cusato | Adaptação web: David Pereira

Charles Bolden, o homem da NASA | FOTO: Rafael Cusato

Charles Bolden, o homem da NASA | FOTO: Rafael Cusato

O major-general reformado Charles Bolden, de 66 anos, nasceu em Columbia, na Carolina do Sul, nos Estados Unidos. E o menino que cresceu em meio à forte segregação racialexistente na região naquela época, se apegou aos estudos para mudar o próprio destino, mas nem mesmo ele poderia imaginar que chegaria tão longe, assumindo, em 2009, o posto de 12º Diretor da Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço (NASA). Sua vitoriosa carreira teve início em 1964, quando se formou na C.A. Johnson High School. Logo, foi indicado para a Academia Naval dos EUA. Em 1970, tornou-se aviador naval e fez maisde 100 voos em missões de combate no Vietnã, em Laos e no Camboja, enquanto servia em Namphong, na Tailândia, entre 1972 e 1973. Na NASA, passou por vários cargos e setores, equatro missões do ônibus espacial, entre 1986 e 1994, sendo que duas delas sob seu comando (colocou o telescópio espacial Hubble em órbita e participou da primeira missão espacial conjunta EUA-Rússia). Foi, ainda, comandante-geral da primeira missão expedicionária da Marinha em apoio à Operação Tempestade no Deserto, no Kuwait. No decorrer de sua carreira, recebeu várias condecorações e medalhas. Veja abaixo trechos da entrevista com Charles Bolden, o homem da NASA.

Ser astronauta foi um sonho cultivado desdea infância?

Não, eu nunca sonhei em tornar-me um astronauta de fato. Crescendo onde eu cresci, no sul dos Estados Unidos, onde a segregação racial era uma realidade, os sonhos tinham seus limites. Nunca sonhei que poderia tornar-me um astronauta e assim foi até eu crescer.

E como o senhor entrou para essa área?

O primeiro passo foi decidir tornar-me um fuzileiro naval, depois ir para a escola de aviação e tornar-me piloto de testes, onde conheci o Dr. Ron MacNair, que estava no primeiro grupo de astronautas de um ônibus espacial. Assim como eu, ele era um afro-descendente e tinha crescido na Carolina do Sul, não muito longe de mim. Eu não o conhecia, mas sabia quem ele era e o admirava pelo que tinha escolhido fazer. Quando nos encontramos e conversamos, ele me perguntou se eu estava pensando em me candidatar para o programa espacial. Eu lhe disse que, definitivamente, não. Ele me perguntou o motivo. Falei que nunca iriam me escolher. E sua resposta para mim foi: “Esta é a coisa mais estúpida que já ouvi! Como sabe, se você não tentar, se você não se candidatar?”.

"Meu conselho para qualquer jovem é que estude muito, trabalhe com afinco e nunca tenha medo do fracasso" | FOTO: Rafael Cusato

“Meu conselho para qualquer jovem é que estude muito, trabalhe com afinco e nunca tenha medo do fracasso” | FOTO: Rafael Cusato

 

 

 

E existe alguma medida para aumentar o número de oficiais afro-descendentes nessas áreas de comando?

O que estamos tentando fazer agora no governo Obama é aumentar o percentual para que pelo menos se aproxime do que é na população em geral. O desafio de se fazer isso é sair por aí e encontrar, antes de tudo, pessoas qualificadas que possam se interessar e trabalhar para uma organização muito técnica. E isso também acontece no Corpo de Fuzileiros Navais ou em qualquer outro ramo do serviço militar nos EUA. Estamos procurando por pessoas que têm habilidades diferentes, porque ela será muito exigida, muito mais do que no mercado de trabalho normal. Eu acho, assim como no Corpo de Fuzileiros Navais, que seja a mesma situação em relação ao trabalho para o governo. Estamos, constantemente, tentando aumentar a quantidade do que chamamos de diversidade e inclusão. Na NASA, o que estamos procurando é a diversidade, não apenas no que diz respeito à raça e ao gênero, mas também a ideias e do ponto de vista demográfico.

Qual foi a sensação do senhor a orbitar a terra?

Foi incrível! Há duas sensações que eu gostaria de explicar: uma é a da visão, ver a Terra do ponto de vista do espaço. Você vê um planeta incrível! Nós sempre descrevemos o planeta como sendo frágil, mas na verdade, nós é que somos frágeis. Sabemos que precisamos preservar o planeta porque somos a parte fraca. E, quando você olha a terra do espaço, se sente um pouco insignificante, porque não há realmente um sinal de que existem seres humanos vivendo lá. A segunda sensação é a de ser leve. Nossa velocidade em torno da Terra é tão rápida que a gravidade é superada, e, por isso, nós flutuamos.

Que conselhos daria para um jovem afrodescendente com problemas sociais e econômicos –como a maioria dos jovens aqui no Brasil – conseguir ter uma carreira vitoriosa como o senhor? 

Meu conselho para qualquer jovem é que estude muito, trabalhe com afinco e nunca tenha medo do fracasso. Faça o melhor que puder e deixe suas habilidades demonstrarem que você pode. Não deixe que as pessoas desviem você do seu caminho!

 

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