Fronteiras do pensamento com Graça Machel

Graça Machel, é africana, mas não uma africana comum. É conhecida e respeitada em todo o mundo pelo gigantesco trabalho que desenvolve a décadas em defesa das mulheres e das crianças no continente africano. Carrega na sua história uma trajetória marcante. Simboliza e representa a um só tempo a vida, a luta e a firmeza das mulheres africanas em defesa da democracia e da liberdade.

Nasceu em Moçambique, numa província pouco conhecida, chamada de Gaza, terra de fortes tradições culturais ancestrais, em 1945, à época sob a tutela da colonização portuguesa. E é nesse cenário que ela acompanha de perto a luta pela independência do seu país, ocorrida em 25 de junho de 1975  e participa ativamente dos primeiros passos para a consolidação daquela nação africana.

Foi Ministra da Educação, no primeiro governo independente de Moçambique, quando teve a responsabilidade de recriar a escola, formar professores e praticamente refazer todo o conteúdo do ensino que havia sido fraudado pelo colonizador, visto que era uma das poucas pedagogas moçambicanas, (formada pela Universidade de Lisboa, em línguas germânicas). Mais que isso, foi uma militante e alfabetizadora de multidões, tanto do ponto de vista educacional quanto político.

Mas, há uma marca na trajetória de Graça Machel que é permanente e precisa ser destacada – o seu carinho e cuidado para com as crianças. Neste trabalho, Graça sempre dedicou o que possuía de melhor, sempre com muita atenção, emoção e generosidade. Era a própria encarnação da Mama África, suprindo os seus filhos daquilo que havia sido negado de forma tão dura – a educação e a liberdade.

Na década de 90 adotou mais uma iniciativa marcante, criou a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade, que tinha como objetivo principal o combate a pobreza e a luta por justiça social, por esta via inúmeras redes de mulheres rurais foram criadas. Ainda neste período, mais uma vez as crianças voltaram a protagonizar suas ações, sobretudo aquelas mais carentes ao se debruçar e assistir as crianças que nasciam infectadas com o vírus da Aids, um verdadeiro flagelo na África contemporânea.

Como reconhecimento pelo seu trabalho as Nações Unidas a encarrega de estudar as consequências das guerras junto as crianças, em particular as crianças moçambicanas.

Nem mesmo a morte até hoje não esclarecida do seu primeiro esposo – Samora Macchel – primeiro Presidente de Moçambique (morto num acidente aéreo) arrefeceu o seu ânimo. Em que pese o luto, trabalhou intensamente no processo de retirada das minas terrestres no território moçambicano que atemorizava a todos e mutilava milhares de pessoas.

Por fim, voltou a cena política, ao casar-se com o grande líder africano Nelson Mandela e mais uma vez esteve à frente de importantes ações na busca pela paz e desarmamento no continente africano.

Neste sentido, seguramente não poderíamos ter liderança mais apropriada para tratar destes temas do que Graça Machel, visto que viveu e participou centralmente de dois momentos históricos destas lutas no continente africano:  a primeira em Moçambique, sua terra natal e a segunda na África do Sul, na luta contra essa monstruosidade chamada – apartheid.

Enfim, é esta mulher, originária da África profunda, com ideais de dimensão universal que teremos entre nós, na cidade da Bahia, para conversarmos sobre o tema – Civilização: A sociedade e seus valores. Com certeza esta conversa entrará para a história.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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