Gaúcha, negra e Miss Brasil

Conheça a história da primeira negra a ser coroada a Miss Brasil

 

Texto: Edmea Ferreira| Foto: Divulgação| Adaptação Web Sara Loup

Dia da coroação de Deise | Foto: Arquivo pessoal

Dia da coroação de Deise | Foto: Arquivo pessoal

Deise entrou para a história com apenas 18 anos, no dia 17 de maio de 1986, mas o preconceito era tamanho que, na época, chegaram a cogitar o fato de ela não ser realmente gaúcha, só porque não seguia o estereótipo das mulheres de sua cidade, Porto Alegre, com traços predominantemente alemães, fruto da colonização europeia. Mas seus valores foram maiores do que qualquer manifestação de preconceito. A vitória de Deise serviu de referência para a valorização da beleza negra.

Em entrevista para a Raça Brasil ela conta como foi essa experiência:

Raça Brasil: Em um concurso como o Miss Brasil, no qual a maioria das vencedoras eram loiras, você sofreu preconceito?

Deise Nunes: Naquela época o preconceito racial era muito grande, quase nunca encontrávamos uma negra em concursos de beleza. Felizmente, não sofri preconceito no Miss Brasil, nem no Miss Universo. A minha pior experiência aconteceu em um concurso que participei em 1984, chamado Rainha das Piscinas do Rio Grande do Sul. Foi a primeira vez que sofri discriminação, ouvi de algumas pessoas o seguinte: “No meio de tanta loira foi ganhar justo uma negra”. Sofri, mas depois me dei conta de que isso me deu força redobrada para lutar pelos meus objetivos.

RB: Negra e gaúcha… As pessoas estranhavam?

Deise:Sem dúvida, fui muito questionada quando cheguei a São Paulo com a faixa de Miss Rio Grande do Sul. Muitas pessoas estranharam o fato de uma negra representar um estado colonizado, na sua maioria, por alemães e italianos. Isso só mostrou o quanto estavam desinformadas, afinal, no Sul existem todas as raças, como em qualquer outro lugar do Brasil.

RB: Qual o verdadeiro papel de uma miss?

Deise: Acho que o papel de uma miss é estar sempre engajada. Ajudar quem necessita é a melhor coisa do mundo. Saber que um sorriso, um abraço ou até mesmo a simples presença em um evento faz alguma diferença, é maravilhoso. Quem consegue se doar, recebe mais do que imagina. Eu trabalhei em prol de diferentes causas.

RB: O que você mudou do seu tempo de miss até hoje?

Deise: Quanto à moda, é visível a mudança, a começar pelo perfil das candidatas. A cada ano que passa elas estão mais parecidas com modelos. Hoje, as mulheres não têm tantas curvas, são mais longilíneas.

RB: Você ainda tem envolvimento com o mundo das misses?

Deise: Sempre estive envolvida com misses, seja como jurada de concursos ou mesmo palestrante. E tenho planos de abrir uma escola em que eu possa ensinar passarela, postura e etiqueta. E isso não serve somente para misses, ajudará também todas as pessoas que almejam subir na vida, desejam ser reconhecidas no trabalho ou até mesmo levantar a autoestima. Ter dado aulas de passarela e etiqueta para as misses foi muito importante, tiro proveito das dúvidas das alunas e das tendências para estar em constante aperfeiçoamento profissional.

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