Irmandade dos negros

Veja a história da Igreja Nossa Senhora do Rosário no Rio de Janeiro e sua relação com a Irmandade dos negros

 

TEXTO: Brunno Braga | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira

 

Igreja Nossa Senhora do Rosário | FOTO: Divulgação

Igreja Nossa Senhora do Rosário | FOTO: Divulgação

Localizada num das áreas mais valorizadas da cidade do Rio de Janeiro e um dos mais importantes patrimônios históricos do Brasil fica a Igreja Nossa Senhora do Rosário. Fundada no século XVIII por escravos e negros alforriados, a construção não somente serviu para congregar negros católicos, como também foi palco dos principais momentos da história brasileira. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário serviu para que escravos e negros alforriados pudessem frequentar e assistir às missas, uma vez que a presença deles era proibida em outras igrejas, sobretudo na antiga Sé. “A igreja foi erguida numa das áreas mais desvalorizadas da cidade, conhecida como Rua da Vala. Esta vala, durante muito tempo estabeleceu o limite entre a zona urbana da cidade e o campo, onde se erguiam chácaras. Com o crescimento do campo, começaram a ser colocadas pontes sobre a vala para facilitar a passagem. No entanto, com o passar dos anos, a Igreja – que era mal vista pela sociedade local e sofria todo tipo de pressão para que fosse fechada – acabou se tornando a Sé, em 1737, provocando novos problemas e confrontos para a Irmandade Católica Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos”, explica o historiador Milton Teixeira, especialista em História do Rio de Janeiro.

Testemunha de principais momentos históricos do Império, a Igreja Nossa Senhora do Rosário – já na condição de Catedral do Rio de Janeiro – foi a primeira igreja a ser visitada pela família real na chegada de dom João VI e sua comitiva, em 7 de março de 1808, no Rio de Janeiro. Outro importante evento ocorrido na igreja foi a elaboração e entrega do abaixo assinado, em 9 de janeiro de 1822, pedindo a D. Pedro I que ficasse no Brasil, conhecido como o Dia do Fico. “É importante mencionar, também, que a Igreja foi responsável, em meados do século XIX, pela criação, no seu entorno, da chamada “Pequena Africa”, onde milhares de negros livres, em busca de trabalho, juntaram-se aos africanos e mestiços que já ganhavam à vida na antiga capital do império, principalmente nas zonas central e portuária”, afirma Milton, lembrando que na época inexistia o conceito de favela, apesar de haver grandes semelhanças. A Irmandade foi responsável, ainda, pela contratação de advogados de defesa no processo contra João Cândido, líder da famosa Revolta da Chibata. Na ocasião, eles abriram mão de seus honorários.

A Igreja mantém hoje um museu, porém, boa parte do acervo foi destruída em um incêndio ocorrido no local, em 1967. O que sobrou (peças de raro valor em cristal, bronze, marcenaria e madeira, instrumentos de tortura aplicada aos escravos, emblemas e estandartes dos diversos centros abolicionistas tais como os de José Patrocínio e Joaquim Nabuco) sofre com a falta de manutenção e cuidados de preservação.

 

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