Jornalista foi atacada em foto no Facebook e disse que ia mandar publicação para os pais do jovem que fez comentário.

Mariana Britor estava em seu primeiro emprego e foi promovida como recrutadora em uma empresa de tecnologia. Sua missão era escolher três estagiários para trabalhar no atendimento externo a clientes diversos. Os selecionados por ela incluíam uma mulher e um negro, mas seu chefe pediu que ela repensasse as contratações.

Na visão dele, a mulher poderia causar problemas por ser vítima de assédio e o estagiário negro poderia ser considerado suspeito quando fosse resolver as demandas dos clientes. Inconformada, a desenvolvedora pediu demissão. “Quer dizer que o problema estava neles e não no olhar que as pessoas tinham sobre eles?”, questiona Mariana, que hoje é pesquisadora da multinacional IBM e acredita que os profissionais e empresas precisam se posicionar contra o preconceito no ambiente de trabalho. “A gente tem fazer cara feia para quem faz cara feia”.

O relato de Mariana foi um dos que compôs um debate sobre diversidade na área de tecnologia da informação (TI), que fez parte da programação do Rio Info 2018, que ocorre hoje (24) e amanhã (25) no centro do Rio. Em uma área em que mulheres e negros ainda são sub-representados em relação à população brasileira, gestores e profissionais compartilharam ideias para reverter a desigualdade de oportunidades e tornar o mercado mais diverso e eficiente.

Ambiente mais acolhedor e diverso

Fundador de uma empresa especializada no recrutamento de jovens profissionais de origens diversas para grandes empresas, Leizer Pereira diz que a diversidade não é apenas uma forma de tornar o mundo mais justo, mas também um instrumento para tornar as empresas mais criativas e rentáveis. Na Comunidade Empodera! ele seleciona jovens para multinacionais e grandes empresas brasileiras e auxilia essas companhias a criarem um ambiente mais acolhedor e diverso.

“Se você pega um problema e coloca pessoas com visões de mundo e histórias diferentes para fazer a análise, a solução será melhor”, diz Pereira. “A diversidade de ideias vem com a diversidade de pessoas”.

Direcionamento de matrizes

As diretrizes para a implementação de políticas de diversidade nas grandes empresas muitas vezes vem das matrizes das multinacionais, em países onde o debate está mais avançado. Até mesmo o acesso a determinadas formas de financiamento está condicionado à diversidade de gênero e raça nas empresas e executivos têm metas para atender a essas exigências e recebem bônus por cumpri-las.

“Não tem nenhum santo. Todo mundo está olhando o mercado”, argumenta Pereira, que diz que a mudança cultural nas empresas precisa ser autêntica, ou questionamentos aparecerão e apontarão desalinhamentos nessa estratégia.

Aumentar a empregabilidade de jovens da periferia e de baixa renda em gigantes como a Google ou o Facebook transforma suas vidas de imediato, explica Pereira, que defende um mercado mais aberto a diferentes origens, gêneros e raças. “A gente não pode construir um país com base em heróis. Temos que construir uma sociedade em que haja oportunidades para todas as pessoas”.

A engenheira Thaisa Ranieiri diz que a mudança nas grandes empresas é importante para apontar o caminho para as pequenas e médias, que são as grandes empregadoras do mercado de trabalho brasileiro. Ela apresentou dados sobre o mercado de TI e disse que as mulheres são 15% dos universitários da área e nem 7% dos que se formam. Em todo o mundo, há 12% de mulheres nos cargos de gestão nas empresas de TI, segundo dados de uma empresa de recrutamento estrangeira.

“A mãe dá uma boneca para a filha menina e um videogame para o menino. Isso é um viés inconsciente”, diz Thaisa. “Se a gente tiver mais exemplos, vai conseguir ter a mulher com mais protagonismo nessa área”.

Fonte : EBC

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