Martinho da Vila fala à Revista Raça

Leia trechos da entrevista com o sambista Martinho da Vila

 

TEXTO: Amilton Pinheiro | FOTOS: Rafael Cusato | Adaptação web: David Pereira

Martinho da Vila fala à Revista Raça | FOTO: Rafael Cusato

Martinho da Vila fala à Revista Raça | FOTO: Rafael Cusato

Veja alguns trechos da entrevista com o Martinho da Vila:

Geralmente os artistas ficam apreensivos quando os filhos decidem seguir a mesma carreira, pois há cobranças, comparações, além das incertezas. Você vê com bons olhos a carreira dos seus filhos?

Não. Nisso aí eu sou contraditório comigo mesmo (risos), com meu pensamento mesmo. Ninguém deve ter um filho e incentivar que ele siga a profissão que você escolheu em alguma área artística, seja ator, pintor, dançarino, jornalista (olha para mim e diz rindo que jornalista pode), mas escritor não, tampouco cantor. Você pode é abrir o espaço para eles fazerem
alguma coisa e, paralelamente tem que incentivá-lo a estudar e ter uma profissão fora da área artística.

Diz isso pensando na instabilidade que uma carreira artística tem? Você, por exemplo, saiu definitivamente do exército para seguir a carreira de cantor.

Realmente a carreira artística é muito instável. A maioria dos que a seguem fica frustrada. Quando se é filho de artista e esse artista faz sucesso, o filho pensa em segui-lo e trilhar
o mesmo caminho, mas pouco são os artistas que conseguem ter uma carreira longa. Eu sempre falei isso, e contraditoriamente, sempre levei os guris comigo para os shows e botava-os para fazer alguma coisa, um vocal ali, tocar um instrumento aqui…  E acabou que eles gostaram. Sem querer, os alimentei para  seguir os meus caminhos (risos).

Sua carreira começa de fato em 1969, quando lançou o primeiro disco, Martinho da Vila, porém, já tinha participado de um festival em 1967. Você estava no Exército como sargento, 
participava de festivais de música e cantava em alguns lugares…

Isso. Para participar desse primeiro festival de música, tirei licença para cantar. Eu pensava assim: “Quando passar essa onda de festivais eu volto tranquilamente”. O Exército era um local de trabalho. Ser sargento lá era uma profissão como outra qualquer, que nem trabalhar numa empresa. Ser policial é também um emprego, não é uma ideologia, entendeu? Mas felizmente deu muito certo!

O primeiro trabalho, “Martinho da Vila”, estourou de uma forma que ninguém esperava. O gênero samba sempre venceu muito pouco. O escritor e jornalista Sérgio Cabral falou que você foi um dos primeiros sambistas a vender bem. É isso mesmo?

Não se vendia muito samba. Quando eu cheguei, o samba estava muito fora da mídia de uma maneira geral. Foi um período que tinha no Brasil muitas coisas. A bossa nova, que era um samba mais sofisticado, tinha feito sucesso. Mas as pessoas diziam que aquilo não era samba. Só Vinicius de Moraes que falava “Isso é samba” (risos). Esse tipo de samba que eu faço, que o Paulinho (da Viola) faz, estava muito fora da mídia e dos ouvidos das pessoas. Então, quando eu “explodi”, o samba estava muito tempo fora da mídia, e, isso, de alguma forma me ajudou, pois as pessoas estavam querendo escutar samba de verdade. Dei essa sorte também.
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