“O ÓDIO COMANDA O ESPETÁCULO”

Inevitavelmente a notícia da semana no Brasil é a injusta e preocupante prisão do Presidente Lula. Injusta porque rasga uma das cláusulas pétreas da Constituição Brasileira que afirma expressamente no seu artigo 5º, inciso LVII, de que “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Preocupante por que põe em risco um dos alicerces da democracia brasileira que é sua Constituição cidadã.

Mas, algumas manifestações, ocorridas pelo país afora em torno dessa questão, merece muito mais que nossa preocupação. Merece o nosso mais veemente repúdio. Refiro-me, em primeiro lugar a “celebração” realizada pelo rufião Oscar Maroni, condenado desde 2011 (que recorre em liberdade) por exploração à prostituição.

A dita celebração ocorrida nas ruas de São Paulo, foi em verdade um ato criminoso, recheado de escárnio, hipocrisia e desfaçatez e que deve ser objeto de apuração rigorosa tanto por parte da polícia quanto da justiça. Neste ato, o rufião Maroni, ofertou, publicamente, prêmio a quem matasse o ex-Presidente Lula na cadeia. Pergunto: incitação e apologia à violência, ainda mais ao assassinato, continua sendo crime no Brasil, ou não?

Mas, não ficou só aí esse festival de ódio e insensatez. Quando do voo de São Paulo para Curitiba, levando o ex-presidente Lula, um controlador de voo sugeriu ao piloto da aeronave que jogasse “aquele lixo embaixo” revelando não apenas o ódio pelo passageiro, mas a incitação ao crime num ambiente de trabalho tão delicado como é o de pilotar uma aeronave.

Estas duas manifestações, amplamente divulgadas na grande imprensa e pelas redes sociais são indicativos graves do grau de intolerância política que está grassando no país. Se somarmos a isto, o assassinato da Vereadora Marielli Franco, crime sem solução até o presente momento, temos um quadro preocupante de agravamento ao estímulo a violência política no país.

As lideranças políticas brasileiras, sejam elas de que quadrante for articuladas com a sociedade civil, por meio de suas representações, precisam urgentemente adotar medidas e posturas públicas firmes de combate a este tipo de incitamento. Do mesmo modo, as instituições responsáveis pela segurança pública do país, notadamente as campo da justiça precisam cumprir sua missão maior e coibir de maneira preventiva este tipo de comportamento.

Não é possível que manifestações como as registradas acima sejam consideradas normais, enquanto as manifestações de meia dúzia de militantes em Minas Gerais, que jogaram saquinhos de tinta na fachada de um edifício, sejam consideradas criminosas, por conta de visões mesquinhas, partidárias e intolerantes, como está fazendo boa parte da grande imprensa brasileira.

O ódio político que está viralizando no país, que tem em organizações como o MBL (uma das organizadoras da tal “celebração”) polo de irradiação, está se transformando num combustível extremamente perigoso para a saúde da frágil democracia brasileira. Há que se ter responsabilidade para não transformar a legítima luta política pelo poder em conflito que tenha a violência como arma de convencimento. Isto não é bom para ninguém, muito menos para a população e menos ainda para o processo democrático.

Neste sentido, basta que olhemos para o que está ocorrendo na cidade do Rio de Janeiro, onde a disputa entre as milícias, o narcotráfico e o aparelho de segurança do estado, tem vitimado basicamente a população negra e pobre, sem que se avance um milímetro na solução do problema da segurança no Rio. Como diria a sabedoria popular – “Olho vivo que cavalo não desce escada”.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

Zulu Araujo

Foi Presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon – Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

 

 

 

*Este artigo reflete as opiniões do autor. A Revista Raça não se responsabiliza e não pode ser responsabilizada pelos conceitos ou opiniões de nossos colunistas

 

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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