O precursor da capoeira

Saiba mais sobre a história de mestre Bimba, o maior precursor da capoeira regional

 

TEXTO: Eli Antonelli | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira

Mestre Bimba, o maior precursor da capoeira regional | FOTO: Divulgação

Mestre Bimba, o maior precursor da capoeira regional | FOTO: Divulgação

Na capoeira regional, mestre Bimba foi o maior precursor. Nasceu em 1899 e seus primeiros passos na capoeira ocorreram num período crítico, em que a arte era proibida. Ele incorporou na capoeira o batuque e a denominou Luta Regional Baiana para driblar a proibição, que vinha desde o tempo do Império. Em 1953, Getúlio Vargas assistiu uma apresentação de capoeira de mestre Bimba e seus discípulos. Enfático, afirmou que a arte deveria ser o esporte nacional e baixou um decreto que a tornou legal. O mestre Cafuné – um dos mais fortes discípulos de mestre Bimba –, continua, aos 73 anos, a expandir seus ensinamentos. Recentemente, ele esteve no sul do país levando um pouco de sua história e atraindo capoeiristas de várias regiões do Brasil. Mestre Terra, de Bauru, no interior de São Paulo, era um deles e aguardava, ansioso, a oportunidade de conhecer um discípulo direto de mestre Bimba.

Com 28 anos de capoeira, mestre Terra desenvolveu um trabalho vigoroso, tendo, inclusive, alunos espalhando a arte da capoeira no Japão. “É uma emoção aprender com um discípulo direto de mestre Bimba. Aprendemos sempre com nossos mestres, com os mais novos, com a observação. As pessoas que passaram na minha vida no início da minha trajetória na capoeira foram mais que condutores da técnica.

Meu mestre foi tudo: mestre, pai, amigo, irmão e psicólogo. Se não tivesse entrado na capoeira, não teria encontrado minha identidade e não teria desenvolvido a disciplina e postura que tenho hoje”, conta. Mestre Cafuné trabalha com Nenel – filho de mestre Bimba – na administração da Fundação Mestre Bimba e na Filhos de Bimba Escola de Capoeira. Ele viaja para vários lugares levando seu conhecimento, energia e vivência da cultura afro-brasileira. Seus momentos com mestre Bimba podem ser conhecidos na obra Ele não faz capoeira, ele faz cafuné, lançada pelo Coletivo EDUFBA. O livro conta fatos curiosos, como no dia em que um jovem franzino e magrinho, de nome Sérgio Fachinetti Dória (mais tarde, mestre Cafuné), chegou à academia de mestre Bimba pela primeira vez. Queria assistir a um treino. Entrou e pediu para acompanhar a aula. Imediatamente, mestre Bimba pediu que retirassem o jovem dali e fechassem a porta. Do lado de fora e muito chateado, ficou decepcionado com a grosseria. Só um tempo depois ele entenderia a jogada de marketing e o ensinamento com aquela ação. Já na calçada, ele percebeu uma placa diante da academia: “Visita: 20 mil réis/ Mensalidade: 20 mil réis”. Ali, mestre Cafuné aprendeu um grande ensinamento de mestre Bimba, o de jamais entrar num lugar sem observar melhor os costumes em sua volta, os avisos, as portas de entrada e de saída. “Esse ensinamento dura até hoje na minha vida. Bimba complementava a educação com excelência”, recorda mestre Cafuné, que relembra várias histórias da capoeira de Bimba, tempos mais distantes, em que os capoeiristas lutavam para se defender na rua, luta com navalha, luta pesada, das histórias dos lenços de seda, um pouco além da capoeira e as senzalas. Tais histórias encantaram não só as crianças e jovens, mas professores e mestres que tiraram dali ensinamentos preciosos para uma nova geração.

 

 
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