Professora de inglês faz ataque racista em supermercado na zona Norte de SP

6y320bv48n_6ct9cpqpdx_fileA professora de inglês Celi Oliveri fez ofensas racistas em um supermercado na avenida Edgar Facó, na zona Norte da capital, no último sábado, dia 22 de abril, e também praticou injúria racial contra um empresário negro, de 32 anos, que estava fazendo compras na loja.

A agressora, que mora próximo do supermercado, fugiu quando o gerente da loja, o segurança, a vítima da injúria estavam chamando a polícia pelo telefone 190 para formalizar a denúncia de racismo. A agressão durou mais de meia hora e boa parte dela foi gravada pelo sistema de segurança da loja.

Segundo as informações do boletim de ocorrência número 82/2017, registrado na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), o empresário era o segundo cliente na fila do caixa, enquanto a professora Celi Oliveri estava pagando as compras delas. A professora reclamou que o empresário tinha batido o carrinho de compras na perna dela. O rapaz afirma que pediu desculpas, apesar de estar com o carrinho a quase um metro de distância dela. Em seguida, ela empurrou o carrinho dele. Novamente, ele pediu desculpas.

Na sequência, a professora disse para a funcionária do caixa “além de preto é corintiano”. A frase racista, ofensiva a comunidade negra, foi ouvida pelo empresário e por outros clientes.

O caso será investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e a professora terá que prestar depoimento. As testemunhas também serão ouvidas pela polícia durante a elaboração do inquérito.

A cena de agressão e intolerância teve sequência pois a professora Celi Oliveri começou a xingar em tom de voz ainda mais elevado o empresário. “Ela me chamou de macaco, preto e filho da P*”, disse o empresário.

“Clientes que estavam atrás de mim na fila perceberam e começaram a discutir com ela, dizendo que era crime que era racismo. Ela, porém, continuou me xingando repetidamente de preto, macaco e filho da p***. Disse que eu era bandido e que eu era ladrão”.

A situação ficou ainda mais grave. “Quando o gerente do supermercado apareceu perguntando se eu queria chamar a polícia, eu falei, no primeiro momento que não, pois não ia estragar o meu sábado. Mas então a senhora deu um grito e disse ‘vai seu macaco, filho da p***, chama a polícia que é o seu direito”.

Após essa nova leva de insultos e provocação, o empresário decidiu ligar para o 190. A polícia informou que uma viatura estava a caminho do local. “Nesse meio tempo, eu fui até o estacionamento da loja, onde a minha esposa e o meu filho esperavam no carro para avisar o que estava acontecendo. Quando voltei para o mercado, o segurança disse que a senhora tinha ido embora e se eu queria ir atrás dela, pois ele sabia a direção que ela tinha tomado”.

O empresário explicou ao R7 que até aquela tarde, por volta das 18h do último sábado, nunca tinha visto a senhora e não sabia quem era.

“Eu fui atrás dela na rua com o segurança do mercado e apareceram duas motos da Polícia Militar. Eu e o segurança informamos o ocorrido. Um dos polícias virou para mim, me mediu de cima até embaixo e perguntou ‘você tem certeza que ela fez alguma coisa para você?’. O segurança do supermercado disse para o policial ‘sim, ele sofreu racismo, ela chamou ele de preto e filho da p****, vocês como estão vestindo essa farda têm que ir atrás dessa mulher e colocar ela na cadeia. Vocês tem que ajudar ele’, os polícias da moto foram junto comigo e entraram numa rua à esquerda, onde a mulher não estava, eu continuei indo até a rua seguinte e localizei a mulher. Daí eu chamei os policiais de moto, fiz gestos para eles, porém, não me deram atenção e foram embora”, disse o empresário.

Acusação falsa de roubo

Sem o apoio da polícia que foi embora, o empresário continuou seguindo a mulher pela rua. “Ela viu que eu estava indo atrás dela e parou duas pessoas na rua. Disse para elas que eu estava tentando assaltá-la e que era um ladrão. As pessoas acharam mesmo que eu era ladrão. Então me aproximei e expliquei ‘desde quando ser chamado de preto e macaco por uma pessoa branca é assalto?  As duas pessoas ouviram o que disse e falaram que era racismo e que eu não estava errado”, contou.

De acordo com a narrativa do empresário, a professora Celi Oliveri chegou na portaria do prédio onde mora, na rua Salvador Sala, na zona Norte, e deixou um portão aberto. O empresário a seguiu e entrou no prédio, mas havia um segundo portão que foi fechado pela moradora.

Ele ficou em pé entre a portaria e a calçada, o porteiro do prédio presenciou a cena. “Ela continou me xingando. E falou para o porteiro. ´Olha esse macaco, olha esse preto tira ele daqui’. Nessa hora,o meu sangue já estava fervendo de raiva, mas me controlei. Não retruquei as ofensa, apenas perguntei para o porteiro qual era o apartamento dela. O porteiro disse que só poderia dar essas informações quando a polícia estivesse presente”.

O empresário então ligou novamente para o telefone 190 e informou o endereço onde ele localizou a mulher. “Nesse momento, a minha esposa chegou com o meu filho de carro e eu sai da área da portaria do condomínio e fui falar com ela na calçada e aguardar a chegada da polícia.

A irmã

Enquanto aguardava, o empresário notou que chegou uma SUV Tucson preta. “A mulher que dirigia olhou para mim e para as janelas do condomínio”. Enquanto isso, a PM me informava pelo celular que não havia viaturas na área, mas que logo iriam mandar uma.

O empresário desligou o telefone e esperou por cerca de dez minutos. “Então liguei mais uma vez para o 190 pedindo ajuda. Nisso, a mulher da Tucson apareceu e disse que se chamava Nancy Olivieri e que era irmã da mulher”.

“Ela veio me perguntar o que tinha acontecido. Eu disse tudo, falei dos nomes que tinha sido xingado pela irmã dela. Então ela falou que a agressora se chamava Celi Olivieri e que sofria de problemas psiquiátricos. Ela disse também que iam trocar o médico dela”.

Além de tentar colocar panos quentes, a irmã da agressora coagiu o empresário. “Ela disse que eu teria que desistir de dar queixa e de levar isso adiante. Ela queria que parasse por ali”.

“Repondi que não iria parar e que faria um boletim de ocorrência. Ela respondeu ‘Nos vemos na Justiça’ e pediu para a minha esposa anotar o nome dela, o RG e o endereço’.

Neste momento, segundo a Nancy, a irmã não estaria mais no prédio e não adiantaria nada ele ficar lá na porta. “Isso já era mais de 18h50. A viatura da PM não chegou”.

O caso todo abalou muito o empresário, seus amigos e familiares. Foram diversas mensagens de apoio nas redes sociais, sempre em tom de indignação. “Fiquei do dia 22 até o dia 26 sem conseguir trabalhar, fiquei triste, toda hora vinha na minha cabeça as palavras e o ódio como ela dizia aquilo para mim. Nunca imaginei me ver numa situação assim. Tive crises de choro. Agora só quero que a justiça seja feita e vou até o fim”, concluiu.

Entenda a acusação

O crime de racismo acontece quando uma pessoa ofende a raça. Faz uma ofensa genérica que atinge um povo ou uma etnia. Como dizer para alguém que tal ação pejorativa é “coisa de preto”. Já o crime de injúria é quando alguém ofende outra caracterizando a ofensa numa pessoa, por exemplo, “você é um macaco”. O fato da injúria ter conotação racial é um agravante para o crime.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo foi procurada pelo R7 e não respondeu porque os policias de moto não auxiliaram a vítima no sábado para identificar a agressora e foram embora. A SSP também não respondeu porque nenhuma viatura foi atender a ocorrência, mesmo com a vítima relatando o endereço completo da agressora.

7k8qfr0pc_1s7an2rnt1_file“É uma situação muito triste. Infelizmente, a polícia só está treinada para atender com presteza casos de crime contra patrimônio ou com violência física. Em situações com ataque à dignidade das pessoas, o atendimento policial ainda é muito deficitário”, disse a advogada Mayara Silva.

A agressora, Celi Oliveri, tem uma conta em uma rede social onde publicou a frase “O universo é uma parte de nós mesmos”. Ela teria dito no sábado que era advogada, mas no perfil ela se apresenta como professora de idiomas em uma escola da zona Sul de São Paulo. Porém, a escola afirma que ela não trabalha mais lá há um ano e meio. Ela deu aula na instituição por cerca de dez meses.

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