“Sincretismo Religioso”

Com a imposição do catolicismo no período colonial, o sincretismo religioso, por muito tempo, foi um imperativo para que a religiosidade de matriz africana pudesse manter parte das suas práticas na esfera pública. Até os dias atuais muitos costumes nossos ainda revelam uma fusão de diversos rituais oriundos de diferentes matrizes culturais; e, no final do ano, muitas vezes, independentemente da religião ou crença praticada, adotamos costumes cuja origem é invisibilizada.

 

Com a tradição da roupa branca para as festas do ano novo, uma importante tradição do candomblé – muitos praticam, mas não sabem – popularizou-se, junto com o ato de oferecer flores no mar, praticado por quem cultua Iemanjá ou não.

São poucas as pessoas que se declaram praticantes de religiões de matriz africana. Quando comparamos ao quantitativo de religiões hegemônicas, no entanto, nas areias das praias, na virada do ano, uma multidão, vestida de branco, comemora e emana seus votos para o novo ciclo que se aproxima. Durante o ano podemos enumerar as inúmeras praticas cotidianas que foram internalizadas ao longo da nossa formação e apenas quando nos aproximamos das tradições afrobrasileiras entendemos o sentido de cada uma delas.

 

Para celebrar as festas de fim de ano trazemos um editorial de moda inspirado nas imagens de participantes das festas populares típicas da Bahia, como a festa de Iemanjá e a Lavagem do Bomfim, fotografado por Bruna Salles em Salvador – BA, com as modelos Larissa Lima e Letícia Conceição interpretando duas irmãs: uma pertencente ao catolicismo e a outra, ao candomblé.

Expressando traços do sincretismo religioso, as fotos homenageam o modo como as pessoas se preparam para os cortejos das festas tradicionais, de acordo com as crenças diversas e unidas em uma só celebração, traduzida pela sensibilidade da equipe, com roupas da coleção “Fluxus” de Carol Barreto – cuja pesquisa tratava dos fluxos da Diáspora Africana nos Oceanos – e integram também a imagem de moda, as jóias da designer Silvana Grappi, da coleção Primavera, composta por galhos secos caídos das árvores, aos quais se sobrepõem seres viventes em prata: pássaros, borboletas, flores e folhas, trabalho criado em parceria para a coleção “Asè”, Angola 2016, de Carol Barreto.

 

Essa mistura de elementos naturais com elementos fabricados pelas mãos da artista que aparece nas joias, espelha a mistura da origem e das crenças dos participantes na festa de Iemanjá, assim como as pessoas que frequentam a Igreja do Senhor do Bomfim ou que vão à lavagem das escadarias dessa mesma igreja no mês de janeiro para reverenciar Oxalá.

 

SINCRETISMO RELIGIOSO

Ficha Técnica:

Style: Carol Barreto/@carolbarretocob @modativismo

Photo: Bruna Salles/@bmsalles

Make: Sika Caicó/@sika_caico

Modelos: Larissa Lima e Letícia Conceição/@lariss_lima e @leticonceicao

Jóias: Silvana Grappi/@silvanagrappijoias

CAROL BARRETO

Mulher Negra, Feminista e como Designer de Moda Autoral elabora produtos e imagens de moda a partir de reflexões sobre as relações étnico-raciais e de gênero.  Professora Adjunta do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade – FFCH – UFBA e Doutoranda no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade – IHAC – UFBA, pesquisa a relação entre Moda e Ativismo Político.

 

*Este artigo reflete as opiniões do autor. A Revista Raça não se responsabiliza e não pode ser responsabilizada pelos conceitos ou opiniões de nossos colunistas

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