Site sobre a Cultura Negra

Saiba mais sobre o site que reúne vídeos sobre a cultura negra no Brasil

 

TEXTO: Sandra Almada | FOTO: Carlos Junior/Divulgação | Adaptação web: David Pereira

Site da Cultne, Acervo Digital de Cultura Negra | FOTO: Carlos Junior

Site da Cultne, Acervo Digital de Cultura Negra | FOTO: Carlos Junior

Que tal assistir à chegada, no ano de 1991, de Nelson Mandela ao Brasil? Pronunciamentos de grande impacto de militantes negros numa das manifestações do Movimento Diretas Já! (1983-1984) são de seu interesse? Prefere acompanhar a visita de Bob Marley ao nosso país, nos anos 1970? Ou lhe agrada mais ver cenas dos bastidores da gravação do videoclipe da música They don´t really care about us, de Michael Jackson, na Bahia (com participação especial do Olodum e com o cineasta Spike Lee no comando)? Nada disso?! Bom, então que tal uma passagem pela Noite da Beleza Negra no bloco afro-baiano Ilê Ayê, com Caetano Veloso, Gilberto Gil e os cantores do grupo no palco? Há também cenas de cerimônias de religiões de matriz africana.

O cardápio de alternativas para quem quer, com um simples clique, acessar imagens do Acervo Digital de Cultura Negra (Cultne) – lançado em 2010 – é grande e dos mais variados. A ideia de fazer um inventário dos registros audiovisuais de momentos importantes do ativismo político cultural dos negros do Brasil e de demais países da diáspora africana é uma criação do produtor Filó, com os parceiros Vick Birkbeck, Maurício Eiras, David Obadia e Pedro Oliveira, filho do produtor. Mas as imagens são fruto de um trabalho que começou bem antes, realizado por duas produtoras. Uma elas é a Cor da Pele, do próprio Filó. São dela os créditos dos vários registros armazenados e organizados no site da Cultne (www.cultne.com.br). Outros tantos postados no site têm a marca de outra produtora, a Enúgbarijó Comunicações, criada por Ras Adauto e Vick Birkbeck. O quarteto Filó, Medeiros, Adauto e Vick integram, separadamente, o grupo de videomakers que surge, nos anos 1980, a partir do advento das câmeras portáteis digitais. “Este material foi todo ele produzido em fita VHS. As duas produtoras não existem mais, mas o acervo está preservado. Com o passar dos anos, entretanto, este material começou a se deteriorar. Mas mesmo que algumas estejam mofadas, o que se consegue extrair delas é ouro”, avalia Filó.

Ele estima que, somadas, são cerca de mil horas de gravação, mas que apenas 20% deste acervo está disponibilizado no site da Cultne. Filó acrescenta que ainda é grande o esforço para a obtenção de recursos de modo a continuar o processo de conversão das fitas e postagem. “Em 2009, conseguimos recursos junto à Secretaria Estadual de Ação Social, dirigida, na ocasião, por Benedita da Silva. De lá pra cá, há ainda muito o que fazer, mas vamos em frente!”

Tamanho entusiasmo faz todo o sentido. A primeira razão é que, ao permitir o acesso e o download de seus vídeos, a Cultne vem contribuindo para que, nestes tempos marcados pela revolução digital, um número crescente de pessoas passe a conhecer aspectos da história do Brasil, do ponto de vista de uma parcela da população cuja trajetória e feitos se encontram fora dos livros didáticos, ou neles são apresentados de forma distorcida.

Outro bom motivo para manter a animação é que hoje existe lei federal que determina a obrigatoriedade das emissoras de canal de TV fechado de veicular produções nacionais. O produtor está à busca de recursos para a produção de um longa-metragem que reúna momentos importantes registrados neste legado do movimento negro. “Os canais têm que investir na compra de produtos audiovisuais e isto é muito interessante para nós negros”, diz.

Mas quais são os vídeos mais procurados no site da Cultne? Dos cinco principais views (itens acessados pelos internautas), o último é o dos movimentos negros. Na dianteira estão os de black music e samba. “Pra criar este acervo tivemos como referência o teor do Black Power Mix Tapes, feito por meio do acervo de uma tevê sueca com registro do período em que o ativista Stokely Carmichael esteve exilado lá. Aqui no Brasil, o acesso ao conteúdo mais político dos movimentos negros cresce expressivamente, mas de forma pontual, em datas como 13 de Maio e 20 de Novembro.

Mas, se colocamos Leci Brandão, o acesso é altíssimo, em qualquer época, se comparado a estes outros views, informa o produtor. “As pessoas ainda não estão dando valor. Mas lá na frente vão se dar conta do quanto é importante e valioso, com um click, conhecer, por exemplo, a história da Frente Negra Brasileira ou acompanhar a Marcha do Movimento Negro na qual os militantes foram barrados pela polícia em frente ao busto de Duque de Caxias, no centro do Rio de Janeiro!”, explica Filó.

Quer ver esta e outras matérias da revista? Compre esta edição número 175.

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