Tempo de renovação

A primavera pode ser o período ideal para recuperar a pele e o cabelo e também para inovar, afinal é o tempo do desabrochar das flores. Neste ano, o inverno foi bastante seco em várias regiões do país e tanto a pele negra quanto o cabelo, especialmente os crespos e cacheados, tendem a sofrer mais com o clima seco e frio. A pele fica acinzentada, o cabelo seco e quebradiço e como a sensação de calor é menor, acabamos ingerindo uma quantidade menor de água – um grave erro. Então, não existe umectação que resolva e quase todos os cuidados parecem paliativos.

Recuperação

Aquela pele radiante e cabelos hidratados que todo mundo gosta de exibir no verão, com frequência, são conquistados na primavera. É a minha estação predileta para fazer tratamento estético orientado por médico dermatologista, para clarear manchas (eu tenho melasma e acne). Esses tratamentos são eficazes e devem sempre ser feitos sob orientação profissional. Como a luz do sol ainda não é tão forte nesta temporada, a chance de ter a pele “queimada” é muito menor, ainda que o filtro solar seja indispensável. Em casa, não abro mão de receitinhas caseiras. Uma vez por semana, faço esfoliação com açúcar refinado e mel, inclusive nos pés. Abuso de cremes hidratantes com alto poder de umectação, que em geral têm óleos vegetais, como azeite de oliva, óleo de amêndoas, abacate e aloe vera na composição. Os banhos muito quentes também vão sendo deixados de lado e a pele agradece. O meu cabelo é crespo, tipo 4A e com luzes. Então, embaraça e quebra com facilidade. Lavo duas vezes por semana. Em uma das lavagens, uso produtos industrializados para recuperar e hidratar os fios.

Evito shampoo com sulfato e adoro aquelas ampolas que agem em dois minutos. Sempre desembaraço primeiro com os dedos e depois com um pente de cerdas largas ou com uma escova específica que tem cerdas de vários tamanhos. Vou desfazendo, primeiro, os nós das pontas e, na sequência, vou até a raiz. Na segunda lavagem, que acontece no final de semana, umecto o cabelo na noite anterior com azeite de oliva ou óleo de coco (durmo com o produto no cabelo). É um momento especial de massagem. No dia seguinte, lavo com shampoo sem sulfato e opto por métodos caseiros com óleos vegetais, iogurte e mel. Para manter as luzes sempre radiantes, uso leave in com proteção solar e, em algumas situações, passo algum produto com propriedade para matizar os fios e tirar o amarelado ou esverdeado comum em cabelos descoloridos por completo ou com luzes.

 

Inovação

A primavera também pode ser o momento perfeito para experimentar e inovar. Foi-se o tempo em que negros e negras tinham que usar apenas um tipo de cabelo e na cor natural – na verdade acho que esse tempo nunca existiu. As possibilidades são infinitas e, muitas vezes, orientadas por um ideal de resistência. Os negros e negras sempre estão em movimento e inovando. Infelizmente, ainda é comum ouvirmos por aí que o cabelo no estilo black power, as tranças e os dreadlocks são apenas moda. Para mim, são um ato político e de resistência. Além disso, na atualidade os penteados e escolhas estão mais plurais e diversos. Não existe mais corte e penteado exclusivo para homens ou mulheres. Todos e todas podem usar o que querem e como querem, independente do sexo, orientação sexual e cor da pele. Eu, por exemplo, uso hoje um cabelo claro, com muitas luzes. Outro dia me disseram que as negras loiras estavam na moda e que todas queriam ser como a Beyoncé. Eu adoraria ser a Beyoncé, sou super fã dela. Mas, mulheres e homens negros descolorem os cabelos há muito tempo. Quem não lembra do icônico visual da cantora Tina Turner ou dos inúmeros cortes e cores de cabelo da Elza Soares, que nos últimos dois anos, foi ruiva roxa e quase loira? Combater o racismo e celebrar a liberdade de escolha e a diversidade são, cada vez mais, possíveis por meio da beleza, identidade e autoestima.

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Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

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