Na abertura da 11ª edição do Fórum Brasil Diverso, realizado em São Paulo, no último dia 10 de novembro, a Revista Raça, juntamente com os institutos, Akatu, DataRaça e a Market Analysis, publicou uma pesquisa que deixou muita gente perplexa.
Parece mentira, mas é verdade. 34,4% dos consumidores/as negros/as no país, já sofreram discriminação racial ao comprar um produto ou contratar um serviço, no último ano.
Ou seja, apesar de consumir anualmente quase 2 trilhões de reais, (1,9 trilhão, segundo a pesquisa), a população negra brasileira continua sendo discriminada nos principais pontos de vendas do país. Um contra senso do ponto de vista capitalista, mas uma realidade do ponto de vista social que revela a força e a resiliência do racismo no Brasil.
Lojas de roupas, calçados, perfumaria e acessórios, representam 24,5% dos atos racistas contra os consumidores negros. Shoppings (17%), supermercados (16,8%) e órgãos públicos (5,5%) dão sequencia aos crimes racistas, que teimam em perseguir a população negra, mesmo quando ela está gastando o seu dinheiro nas empresas dos brancos.
A pesquisa intitulada – O Consumo Invisível da Maioria: Percepções, Gatilhos e Barreiras de Consumo da População Negra no Brasil – revela números surpreendentes sobre o sentimento e a vivência dos consumidores negros num país que resiste a diversidade e a inclusão, mesmo quando isso significa ganhar dinheiro.
É o Brasil mostrando a sua cara!
Ouro dado importante revelado pela pesquisa é que a população negra possui mais confiança nas ações do empresariado no combate ao racismo (85,3%) do que nas ações realizadas pelos governos federal, estaduais e municipais.
Essa informação caiu como uma bomba entre os militantes mais experimentados do movimento negro, visto que as primeiras e maiores iniciativas adotadas no país no campo das ações afirmativas foram realizadas pelo Governo Federal, pós a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, realizada em Durban, em 2001.
Até mesmo o CEO da Revista Raça, o Jornalista Mauricio Pestana, ativista do movimento negro há décadas ficou surpreso com os dados. Segundo ele “há desconfiança de um lado e de outro, e porque nas empresas temos regras claras de missão, de não à discriminação, de obrigações que de fato precisam ser cumpridas. Já no governo vivemos um histórico de leis que às vezes pegam, às vezes não, de cumprimento variável”
Ou seja, continua presente no Brasil a famosa regra da “Lei para inglês ver”.
Os números indicam também, outros elementos que levam a população negra a não confiar tanto nos governos, apesar dos esforços empreendidos nos últimos 25 anos. Neste sentido, a violência policial lidera o ranking com (22%).
E aí, os pretos/as pobres que moram em favelas e bairros periféricos, sabem muito bem o que é a presença policial nesses espaços, visto que tem se resumido a – “tiros, porrada e bomba”.
A pesquisa também chama a atenção para outras manifestações racistas que a população negra identifica nos espaços de consumo – invisibilidade nos veículos de comunicação é identificado por (17,6%) e racismo religioso contra as religiões de matriz africana (19%)
Enfim, com certeza, essa pesquisa será referência obrigatória para a redefinição da agenda política do movimento negro brasileiro. Até porque, estamos fechando um ciclo e os desafios que se avizinham para a promoção da igualdade racial no Brasil, são poderosos.
Toca a zabumba que a terra é nossa!







