Juventude preta e periférica viva

Por: Zulu Araújo

Ser preto, jovem e da periferia no Brasil nos dias atuais é uma condição de alto risco. Os números, fatos e análises apresentados pelo Atlas da Violência de 2020, não deixam dúvidas. A vulnerabilidade ao qual esse segmento da população está submetido é de uma gravidade sem tamanho. Nos últimos dez anos, o aumento de assassinatos na juventude negra é de 11, 5%, enquanto entre os jovens não negros a redução foi de 12,9%. “Um elemento central para a gente entender a violência letal no Brasil é a desigualdade racial. Se alguém tem alguma dúvida sobre o racismo no país, é só olhar os números da violência porque traduzem muito bem o racismo nosso de cada dia”, afirmou a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.

Neste cenário, as possibilidades de serem alvos da polícia, milícias ou gangues fazem do seu cotidiano um verdadeiro desafio. As humilhações, exclusões e preconceitos de todas as ordens é a rotina. Além disso, a ausência quase absoluta de alternativas viáveis para a superação desse estado de indigência e sua consequente inclusão no mercado de trabalho, acesso a uma educação de qualidade e tratamento digno por parte do Estado tem transformado esses jovens em verdadeiros párias dentro do próprio país.

A violência tem sido a moeda de troca, seja na relação com o estado ou com a sociedade. E nessa refrega eles são sempre as maiores vítimas.

Esse rápido diagnostico, embora contundente é do conhecimento de qualquer autoridade ou estudioso das questões que afligem a juventude negra desse país, portanto a pergunta que não quer calar é: o que os governantes brasileiros estão fazendo para proteger e estancar esse verdadeiro genocídio que a juventude preta e periférica vem sofrendo?

O cardápio apresentado até o momento pelo estado brasileiro, recheado de tiros, porrada e bomba além de não resolver a questão principal que é a violência, é insuficiente na indicação de qualquer caminho que leve à superação dessa tragédia. E olhe que não faltam esforços de parcela da sociedade. Há sempre um grupo de capoeira, uma banda de pagode, um grupo cultural ou um ponto de cultura frutos dos esforços da comunidade que tentam desesperadamente conscientizar e chamar a atenção tanto dos governantes quanto da sociedade para essa tragédia anunciada.

Na verdade, o que tem faltado mesmo é ação pró ativa do estado no cumprimento dos seus deveres. E o repertório das medidas necessárias para esse enfrentamento não tem nada de excepcional.

Só mesmo a incúria e o racismo estrutural que permeia nossa sociedade até a medula impedem a sua execução. Ou seja, escola em tempo integral, qualificação para o mercado de trabalho, atividades culturais e esportivas e atenção psicossocial deveriam ser coisas simples e corriqueiras se não tivéssemos uma elite política e econômica perversa, assim como irresponsável para com o futuro do nosso país.

Por isso tenho insistido tanto na necessidade de construirmos uma agenda política para o movimento negro brasileiro que tenha a questão da juventude como prioridade e que entre as nossas reivindicações e demandas junto aos poderes públicos do país, (executivo, legislativo ou judiciário) uma solução para o drama da juventude negra e periférica seja encontrado urgentemente. Não podemos continuar considerando natural mais de trinta mil jovens serem assassinados e milhões jogados na marginalidade como algo normal. Nem muito menos considerar que a responsabilidade única e exclusiva dessa tragédia é da própria vítima – a juventude.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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