Rodrigo Pitta traz o que há de ‘Prêt à Porter’ na cultura negra para mostrar um Brasil plural

***INTERNET OUT** SÃO PAULO, SP, BRASIL, 16-01-2021, 16h00: Rodrigo Pitta em ensaio para o programa Preto à Porter. (Foto: André Lucas/UOL). ATENCAO: PROIBIDO PUBLICAR SEM AUTORIZACAO DO UOL

Por Isadora Santos

Rodrigo Pitta possui um longo histórico profissional. Poeta, compositor, dramaturgo, cantor, criativo e diretor, ele sempre esteve circulando entre artistas e nas artes, na música e na moda já trabalhou com grandes nomes e marcas. 

Aos 43 anos, Pitta tem uma carreira consolidada, é um nome importante e reconhecido por trabalhos de expressão. Dirigiu a turnê internacional da cantora Anitta “Made in Brazil Tour” e como fundador do coletivo de entretenimento internacional TEAM O! criou clipes, dirigiu turnês e concertos para Luisa Sonza, Léo Santana, Preta Gil, Karol Konká. O currículo de Rodrigo Pitta é extenso e também inclui trabalhos realizados com personalidades internacionais como Madonna, Bjork, Backstreet Boys e John Malkovich.

Em um de seus trabalhos mais recentes, o diretor e roteirista conduz a série Preto à Porter, um trabalho documental 100% produzido, escrito, dirigido e apresentado por pessoas negras.  Roger Cipó, Neyzona, Carol Sodré e Helio de La Peña formam o time de apresentadores, escolhidos por Rodrigo Pitta para comandar o Preto à Porter. 

“Primeiro eu queria que fosse um programa embasado por alguém que fosse um preto da comunicação, de poder, como Hélio, que foi um dos primeiros pretos a serem famosos por anos no horário nobre da TV Globo. Ele não é um caso único, antes dele teve o Mussum, tem o Lázaro agora, mas são poucos exemplos de showman preto. Mas ao mesmo tempo, precisávamos da nova geração, que é uma geração que entende do processo, conhece, está sentado nesse assunto, tem esse assunto resolvido na cabeça, sabe. É uma outra geração, porque eu acho que a minha geração, era uma geração onde o importante era pertencer, o importante era ser o único, ‘Ai que bom que eu tô aqui, que legal, ótimo’. Hoje não é mais legal e eu acho que os outros apresentadores, então, representam esse momento Black is Beautiful, Black Lives Matter. Então que por isso o Róger Cipó, super fotógrafo, homem preto, resolvido inteligente, bonito, influente e a Neyzona, uma empreendedora que foi modelo e também super centrada, uma preta retinta. Era necessário também mostrar diferentes tonalidades e realidades. Eu acho que o Roger traz uma coisa mono racial que é legal. A Neyzona traz uma coisa bem retinta nigeriana. O Hélio é o ápice do colorismo, preto de olho verde, e a Carol Sodré uma preta mais clara. Então teve essa questão da Carol, essa professora que explica de um jeito muito legal tudo, a Neyzona que é belíssima e empreendedora, o Róger. Então, teve isso na escolha, mas também teve essa paleta de cores que é o Brasil, que para as pessoas que muitas vezes devem olhar para a Carol e não achar ela preta, entender que ela é preta. Acho que foram os critérios de escolha mesmo”, explica Rodrigo sobre a escolha dos apresentadores do programa.

Preto à Porter mostra de maneira didática como a cultura africana influenciou a formação do Brasil, como elementos e costumes das religiões de matrizes africanas são parte do nosso cotidiano como brasileiros, exalta a ancestralidade e mostra que pretos estão alcançando posições de poder em diferentes setores sociais.  

E os entrevistados convidados pelo programa dão conta de relembrar como chegamos até aqui. Gilberto Gil, Preta Gil, a cozinheira Dadá, Carlinhos Brown, Bruno Gagliasso, Adriana Varejão, Luciana Mello, Mart’nália, os antropólogos Paulo de Jesus e Jamile Borges estão entre os convidados que aparecem nos cinco episódios desta temporada.

“Tem de tudo, e eu acho que é onde está mais a minha visão, por incrível que pareça, do que no roteiro em si, do programa escrito. Porque em poucos casos são pessoas que fazem parte da minha vida, são meus ídolos, mas que também são amigos do passado. Então a gente passa pela Glória Maria, que tem uma história maravilhosa, nós dois na Rússia, por exemplo, em 2001. Depois na Suíça com ela fazendo uma matéria para o Fantástico, a Eliana Pittman que é minha madrinha, que me viu desde pequeno, o Gilberto Gil que escreveu o prefácio do meu livro quando eu tinha 23, a Preta [Gil], fizemos teatro juntos. Tem minhas irmãs, minha irmã médica oncologista, minha outra irmã tem agência de publicidade.  Então os convidados são um mix de pesquisa, têm pessoas que eu não conhecia e com pessoas que eram parte da minha existência, da minha história e que fizessem sentido figurado como uma série mais autoral, no sentido de, são os prêt à porter (termo utilizado na moda que significa “pronto para vestir” e que marca um período de aperfeiçoamento na produção de moda no mundo pós segunda Guerra Mundial) do Brasil, que estão por aqui, o Dadá, a Rachel Maia. São pessoas que existem e que precisam ser mais visibilizadas, elas já têm uma visibilidade ampla, óbvio, mas precisam ser relembradas também. Ou meu primo-irmão, na Bahia, que é presidente do Cortejo Afro, que é um bloco da minha família. E minha família tem uma história interessante, porque meu pai (Carmelito Pitta) foi um dos primeiros médicos negros formados no Brasil, na Universidade Católica, morreu com 90, veio para São Paulo. Então, eu e meus irmãos a gente nasceu em São Paulo, mas tem esse pedaço da minha família na Bahia, que é conectado a uma coisa totalmente ancestral. Apesar da minha essência urbana, eu morei nos Estados Unidos, mas tenho essa questão da minha família, das raízes, do Cortejo Afro. Então todo esse assunto sempre teve super no meu DNA, mas eu acho que o programa foi o melhor jeito de reunir todo mundo em torno desses assuntos e colaborar do meu jeito, do jeito que eu podia fazer, por esse momento de abertura sobre esse assunto do Brasil”, explica o diretor.

No ano 2000, aos 22 anos, Rodrigo Pitta criou e dirigiu o musical “Cazas de Cazuza”, uma produção ousada para a época e bastante elogiada pela crítica que agora ganha uma nova roupagem, com um novo elenco e que já estreou com ingressos esgotados.

“Um tremendo atrevido”, como disse o produtor Paulo Amorim na época do lançamento de Cazas de Cazuza, Rodrigo continua a arriscar-se em projetos audaciosos, no Brasil e fora dele. Sem dúvida ele é nosso Preto à Porter.

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