{"id":1704,"date":"2016-10-19T23:13:05","date_gmt":"2016-10-19T23:13:05","guid":{"rendered":"http:\/\/revistaracaprojeto.vimagi.com.br\/?p=1704"},"modified":"2025-03-19T17:32:31","modified_gmt":"2025-03-19T17:32:31","slug":"escritoras-negras-do-brasil","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/revistaraca.com.br\/escritoras-negras-do-brasil\/","title":{"rendered":"ESCRITORAS NEGRAS DO BRASIL"},"content":{"rendered":"

Veja as hist\u00f3rias das escritoras negras brasileiras Maria Carolina de Jesus e Maria Firmina dos Reis<\/h2>\n

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TEXTO: Uelinton Farias Alvez | FOTOS: Divulga\u00e7\u00e3o | Adapta\u00e7\u00e3o web: David Pereira<\/em><\/p>\n

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A escritora negra Maria Firmina dos Reis | FOTO: Divulga\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n

Uma nasceu na S\u00e3o Lu\u00eds do Maranh\u00e3o do s\u00e9culo 19 e tinha origem em uma fam\u00edlia escrava; a outra veio ao mundo em Sacramento, Minas Gerais, j\u00e1 no s\u00e9culo 20, e passou \u00e0 hist\u00f3ria como \u201cnegra, catadora e favelada\u201d. Em ambos os casos, trata-se de Marias: Maria Firmina dos Reis<\/strong> (1825-1917) e Maria Carolina de Jesus (1914-77). O que une o destino dessas duas mulheres guerreiras e destemidas? A escrita, a literatura, os livros.<\/p>\n

A primeira, era filha da negra<\/strong> Leonor Felipe dos Reis, aparentada do c\u00e9lebre gram\u00e1tico maranhense Sotero dos Reis. Transferiu-se para Guimar\u00e3es (MA), onde iniciou seus estudos, at\u00e9 alcan\u00e7ar o magist\u00e9rio, por concurso, e o jornalismo, por determina\u00e7\u00e3o. A segunda, filha de negros humildes (a m\u00e3e era empregada dom\u00e9stica), s\u00f3 teve dois anos de vida escolar regular, mesmo assim, patrocinada pela patroa de sua m\u00e3e. Deixou a escola para ajudar no sustento da fam\u00edlia, pobre e desvalida. Seu aprendizado liter\u00e1rio se deu pela escritura\u00e7\u00e3o nos velhos cadernos que encontrava nas latas de lixo da capital paulista, onde buscava os meios de criar seus filhos. Mas se Firmina dos Reis<\/strong> podia ser chamada de erudita e intelectual, professora e escritora no s\u00e9culo da escravid\u00e3o, a outra, Carolina de Jesus<\/strong>, semianalfabeta, desescolarizada, passou parte da sua vida como catadora de papel nas ruas de S\u00e3o Paulo para alimentar os tr\u00eas filhos de pais diferentes, na Favela do Canind\u00e9.<\/p>\n

S\u00e3o dois rostos. Duas personalidades distintas. Mas semelhan\u00e7as de origem e destinos marcam suas trajet\u00f3rias. Ao publicar, em 1859, o romance \u00darsula, de tem\u00e1tica abolicionista, Firmina dos Reis tornava-se a primeira mulher a assinar uma narrativa de f\u00f4lego na literatura brasileira. O fato de ser negra, todavia, aumenta o seu pioneirismo e o seu pendor revolucion\u00e1rio. Mesmo depois de tantos anos, n\u00e3o h\u00e1 (salvo engano) uma brasileira<\/strong> que se iguale a ela.<\/p>\n

Segundo Nei Lopes (Enciclop\u00e9dia Brasileira da Di\u00e1spora Africana, Selo Negro, p. 278), a sua erudi\u00e7\u00e3o era tanta que fez cunhar a express\u00e3o \u201c\u00e9 uma Maria Firmina<\/strong>\u201d, aplicada no Maranh\u00e3o, a toda mulher inteligente e bem-informada. E o que dizer de Carolina de Jesus? \u00c9, talvez, um caso particular de fen\u00f4meno existencial que, \u00e0 semelhan\u00e7a da autora maranhense, nasceu para brilhar e fazer a diferen\u00e7a no seu curto per\u00edodo de vida terrena.<\/p>\n

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Maria Carolina de Jesus | FOTO: Divulga\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n

Uma vez morando em S\u00e3o Paulo, gozando de sua plena obscuridade, Carolina de Jesus<\/strong> se viu do dia para a noite no centro de todas as aten\u00e7\u00f5es. \u00c9 que pelas m\u00e3os do h\u00e1bil jornalista Aud\u00e1lio Dantas, rep\u00f3rter do Di\u00e1rio de S\u00e3o Paulo, que fazia uma reportagem sobre playground pr\u00f3ximo \u00e0 favela do Canind\u00e9, onde \u00e9 hoje o est\u00e1dio da Portuguesa de Desportos na Marginal do Tiet\u00ea, conheceu o mundo glamuroso das letras impressas. Aud\u00e1lio Dantas soube da exist\u00eancia de seus escritos e foi atr\u00e1s deles. Resultado foi a publica\u00e7\u00e3o, em 1960, de Quarto de Despejo \u2013 di\u00e1rios de uma favelada, marco editorial da Francisco Alves, que vendeu, em uma semana, 10 mil exemplares, superando a marca do maior \u00edcone da \u00e9poca, ningu\u00e9m menos que Jorge Amado. Ou seja, a favelada falou!<\/p>\n

Em pouco tempo, a editora ficou abarrotada de poss\u00edveis escritores, favelados e deserdados da sorte que, como ela, tamb\u00e9m tinham algo a dizer. Os escritos de Carolina de Jesus<\/strong>, antecipador do g\u00eanero \u201cdepoimento\u201d e \u201ctestemunho\u201d, viraram de pernas para o ar e escandalizaram os presumidos padr\u00f5es da \u00e9poca, escancarando as portas de um ambiente desconhecido e curioso, o das habita\u00e7\u00f5es populares, como outrora fora exposto e revelado o das senzalas.<\/p>\n

Pela natureza de suas vidas, Firmina e Carolina est\u00e3o integradas pela via existencial. A primeira, embora racializada e atacada pela elite olig\u00e1rquica maranhense, de profundas ra\u00edzes at\u00e9 hoje, driblou o cativeiro, \u00e0 sombra de Sotero dos Reis, de ideais abolicionistas e republicanos. J\u00e1 a segunda, incorporada aos tempos da Rep\u00fablica, a \u00fanica rela\u00e7\u00e3o que teve com o magist\u00e9rio, foram os conflitos com a professora D. Lanita Salvina, aos 7 anos, que lhe dava reguadas nas pernas finas.<\/p>\n

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