{"id":28365,"date":"2022-09-05T23:32:34","date_gmt":"2022-09-05T23:32:34","guid":{"rendered":"https:\/\/revistaraca.com.br\/?p=28365"},"modified":"2025-03-18T19:03:10","modified_gmt":"2025-03-18T19:03:10","slug":"o-melhor-pai-pode-ser-aquele-que-voce-tem","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/revistaraca.com.br\/o-melhor-pai-pode-ser-aquele-que-voce-tem\/","title":{"rendered":"O melhor pai pode ser aquele que voc\u00ea tem"},"content":{"rendered":"\n

Por: Rachel Quintiliano<\/p>\n\n\n\n

TEXTO EDI\u00c7\u00c3O 227<\/a><\/p>\n\n\n\n

Em agosto celebramos o m\u00eas dos pais e lembro que algumas vezes eu pai nos trazia doces. Para mim ele deixava o doce de ab\u00f3bora e para a minha irm\u00e3, um doce de amendoim. Minha m\u00e3e, para evitar desaven\u00e7as j\u00e1 que os doces sempre vinham trocados – em desacordo com nossa prefer\u00eancia, dizia: apenas troquem os doces. E assim fomos fazendo.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o me lembro de ver meu pai muito preocupado com o meu dia a dia na escola, se eu tinha tudo que precisava para o meu desenvolvimento quando crian\u00e7a. Essas preocupa\u00e7\u00f5es estavam visivelmente com a minha m\u00e3e. Mas, a presen\u00e7a dele era e \u00e9, at\u00e9 hoje, inequ\u00edvoca.<\/p>\n\n\n\n

Sou a ca\u00e7ula e, obviamente, a mais mimada. Aprendi a ter orgulho disso, ainda que signifique pouco para uma fam\u00edlia negra pobre. Tenho uma irm\u00e3 com a mesma m\u00e3e e outras duas irm\u00e3s por parte de pai. S\u00f3 depois de adulta que fui entender esse neg\u00f3cio de meia-irm\u00e3, porque para n\u00f3s e de acordo com as orienta\u00e7\u00f5es do nosso pai, \u00e9ramos irm\u00e3s e t\u00ednhamos que ser pr\u00f3ximas e nos proteger a qualquer custo. Foi assim sempre. Mesmo com nossas diferen\u00e7as levamos esse ensinamento para frente.<\/p>\n\n\n\n

Acho que para os padr\u00f5es de hoje, para o que encontramos escrito por a\u00ed sobre paternidade respons\u00e1vel, meu pai seria eliminado do jogo. Nunca pagou pens\u00e3o e acho que minha m\u00e3e nunca cobrou. Eu tamb\u00e9m n\u00e3o me preocupei com isso, porque desde cedo entendi que n\u00e3o era problema meu. Os adultos que se resolvessem.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o me lembro de discutir com ele um problema de escola, ou de ele ter assinado algum boletim escolar ou mesmo ter ido fazer a minha matr\u00edcula. Isso pode at\u00e9 ter acontecido, mas de fato n\u00e3o tenho essa mem\u00f3ria. Mas, nem por isso, acho que minha m\u00e3e assumiu os dois pap\u00e9is no cuidado com as filhas.<\/p>\n\n\n\n

Aprendi que os pap\u00e9is no cuidado com os filhos e filhas podem ser m\u00faltiplos e que a paternidade negra \u00e9 uma realidade. Acho ainda que o grande legado que meu pai transmitiu para mim e para minhas irm\u00e3s foi o conceito de uni\u00e3o, de irmandade, de compaix\u00e3o, de respeito pelos mais velhos e pelos mais novos. Um lugar de di\u00e1logo e escuta permanente, ainda que, por vezes, nenhum assunto s\u00e9rio estivesse entre nossas conversas.<\/p>\n\n\n\n

Na pandemia, essa rela\u00e7\u00e3o ficou ainda mais evidente. Mesmo nos encontrando menos e com uma s\u00e9rie de restri\u00e7\u00f5es, ele se organizava para me receber bem, fazia com anteced\u00eancia o picles que eu gosto de comer, separava as folhas de ch\u00e1 ou de louro do quintal dele para que eu pudesse levar para casa. Quase sempre saio de l\u00e1 com a sacola cheia. Da \u00faltima vez que estive l\u00e1 at\u00e9 levei uma sacola retorn\u00e1vel para facilitar.<\/p>\n\n\n\n

Ele sabia que o meu dia a dia de trabalho era extenso e com muitas reuni\u00f5es e imaginou que eu tinha pouco tempo para cuidar da minha pr\u00f3pria alimenta\u00e7\u00e3o. Ent\u00e3o, um dia meu interfone tocou. Era ele. Primeiro fiquei com raiva e apreensiva porque sabia que ele n\u00e3o estava dirigindo e que possivelmente usou o transporte p\u00fablico lotado para chegar \u00e0 minha casa. Respirei fundo e abri a porta. Ele estava feliz por me ver e passou apenas para deixar alguns potes com comida (panquecas deliciosas), porque imaginou que eu estava sem tempo para cozinhar. Bem, eu disse no come\u00e7o deste texto que era mimada. A\u00ed est\u00e1 a prova.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o, ele n\u00e3o \u00e9 um santo ou um vovozinho fofo. Apronta muito, mesmo com mais de 80 anos e eu n\u00e3o posso pontuar o desempenho dele a partir de padr\u00f5es de paternidade que, por vezes, est\u00e3o simplesmente
definidos por uma ideia de \u201cresponsabilidade\u201d, que, ao fim e ao cabo, significa pagar contas.<\/p>\n\n\n\n

Acho que ser um bom pai <\/a>passa pela capacidade de desejar ter filhos e filhas, de ter eles e elas por perto, de transmitir valores e aprendizados, de fazer rir, de fazer chorar, de fazer sentir raiva e, ainda assim, com todos os sabores e dissabores, simplesmente amar conviver. Ent\u00e3o, se voc\u00ea \u00e9 filho ou filha, o que posso sugerir \u00e9 que encontre no seu pai o melhor que ele pode te oferecer. Se voc\u00ea \u00e9 um pai e, certamente com muitos desafios deste tempo, esteja por perto, sempre.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Por: Rachel Quintiliano TEXTO EDI\u00c7\u00c3O 227 Em agosto celebramos o m\u00eas dos pais e lembro que algumas vezes eu pai nos trazia doces. Para mim ele deixava o doce de ab\u00f3bora e para a minha irm\u00e3, um doce de amendoim. Minha m\u00e3e, para evitar desaven\u00e7as j\u00e1 que os doces sempre vinham trocados – em desacordo […]<\/p>\n","protected":false},"author":4,"featured_media":28366,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_acf_changed":false,"om_disable_all_campaigns":false,"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_joinchat":[],"footnotes":""},"categories":[191],"tags":[],"class_list":["post-28365","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-noticias"],"acf":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/28365","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/4"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=28365"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/28365\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":28368,"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/28365\/revisions\/28368"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/28366"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=28365"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=28365"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/revistaraca.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=28365"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}