{"id":767,"date":"2016-10-16T20:46:21","date_gmt":"2016-10-16T20:46:21","guid":{"rendered":"http:\/\/revistaracaprojeto.vimagi.com.br\/?p=767"},"modified":"2025-03-19T17:33:15","modified_gmt":"2025-03-19T17:33:15","slug":"a-literatura-afrobrasileira","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/revistaraca.com.br\/a-literatura-afrobrasileira\/","title":{"rendered":"A literatura afrobrasileira"},"content":{"rendered":"

Novo livro do escritor e poeta CUTI repete a celebra\u00e7\u00e3o da literatura afrobrasileira<\/h2>\n

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TEXTO: Reda\u00e7\u00e3o | FOTO: Divulga\u00e7\u00e3o | Adapta\u00e7\u00e3o web: David Pereira<\/em><\/p>\n

\"O
O livro do escritor Cuti, Kizomba de vento e nuvem | FOTO: Divulga\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n

quis esta quizomba<\/em><\/p>\n

que zomba<\/em><\/p>\n

chora, ri, faz moganga<\/em><\/p>\n

esta quizomba<\/em><\/p>\n

acolhe ou tromba<\/em><\/p>\n

ginga, tomba, levanta<\/em><\/p>\n

canta, dan\u00e7a e sua<\/em><\/p>\n

sua matriz<\/em><\/p>\n

sede de antigas chagas?<\/em><\/p>\n

amor<\/em><\/p>\n

chafariz<\/em><\/p>\n

quis esta quizomba<\/em><\/p>\n

escrita a carv\u00e3o e giz<\/em><\/p>\n

para o preto no branco<\/em><\/p>\n

ser mais feliz.<\/em><\/p>\n

\u00c9 com este poema que o escritor Cuti<\/strong>, um dos mais cultuados do pa\u00eds quando se fala de literatura negra brasileira<\/strong>, come\u00e7a o seu mais novo livro, \u201cKizomba de Vento e Nuvem\u201d. Ao todo, s\u00e3o 108 poemas divididos em tr\u00eas grandes tem\u00e1ticas: Preto no Branco, Afetos e Desafetos e Matutando, que robustecem a divulga\u00e7\u00e3o da dignidade social e racial da literatura afrobrasileira<\/strong>.<\/p>\n

A sentimentalidade dos poemas transcende n\u00e3o somente o tema do racismo, algo que Cuti<\/strong> conhece e trata perfeitamente, mas tamb\u00e9m a quest\u00e3o da hierarquia social brasileira, que embora n\u00e3o tenha crit\u00e9rios estritamenteraciais, foi e continua sendo at\u00e9 hoje formada em sua base por descendentes de antigos escravos africanos. Cuti, pseud\u00f4nimo de Luiz Silva, \u00e9 formado em Letras pela Universidade de S\u00e3o Paulo (USP), com mestrado e doutorado na mesma \u00e1rea pela Unicamp. Foi um dos fundadores do Quilombhoje-Literatura e um dos criadores da cole\u00e7\u00e3o Cadernos Negros, s\u00e9rie na qual publicou poemas e contos em 34 dos 35 volumes lan\u00e7ados at\u00e9 2012. Seus quatro \u00faltimos trabalhos no g\u00eanero liter\u00e1rio colocam em v\u00e1rias perspectivas temas de amplo significado da literatura<\/strong>, envolvendo tanto a produ\u00e7\u00e3o humana quanto as suas pol\u00edticas, ideologias, discrimina\u00e7\u00f5es de diversas ordens e\u00a0outras concep\u00e7\u00f5es est\u00e9ticas diversas.<\/p>\n

Um destes trabalhos anteriores que tiveram forte influ\u00eancia neste novo projeto \u00e9 \u201cA consci\u00eancia do impacto nas obras de Cruz e Sousa e de Lima Barreto\u201d. Publicado em 2009, o livro busca a aproxima\u00e7\u00e3o das obras de Cruz e Sousa e Lima Barreto, t\u00e3o diversificadas e complexas, mas que juntas se completam. O caminho escolhido por Cuti <\/strong>neste projeto, ao contr\u00e1rio da maioria das obras do g\u00eanero, procura n\u00e3o focar na diferen\u00e7a entre a experi\u00eancia subjetiva do negro e do mulato no campo da cria\u00e7\u00e3o liter\u00e1ria,mas sim manter a uni\u00e3o entre os g\u00eaneros. Considerando que estas obras foram publicadas \u00e0 margem do campo minado pela escravid\u00e3o e pelo racismo, o sujeito \u00e9tnico percorre seus textos criando uma tens\u00e3o com o discursoracial dominante, numa oposi\u00e7\u00e3o direta ou indireta. Cuti seguiu seu caminho e publicou outras obras que culminaram em \u201cKizomba de Vento e Nuvem\u201d, como \u201cLiteratura negro-brasileira<\/strong>\u201d (2010), \u201cLima Barreto\u201d (2011) e \u201cQuem tem medo da palavra negro\u201d (2012). Com a base liter\u00e1ria j\u00e1 definida, Cuti p\u00f4de trabalhar o universo de poemas, contos e teatro, e criar a obra do \u201cKizomba\u201d.\u00a0O livro marca mais um ponto para o conjunto de obras que n\u00e3o tomam a quest\u00e3o racial como ponto central, mas que tamb\u00e9m n\u00e3o silenciam sobre os variados e complexos t\u00f3picos relativos a estas rela\u00e7\u00f5es. O livro tamb\u00e9m aborda outras tantas facetas da vida nacional, demonstrando a import\u00e2ncia de a poesia ir al\u00e9m das quest\u00f5es de fundo amoroso, abarcando assuntos mais espinhosos e inusitados.<\/p>\n

A ideia, segundo o pr\u00f3prio autor, \u00e9 iluminar o mundo nas suas mais misteriosas cavernas. A obra \u00e9 um entrelace de sonoridades, ora harm\u00f4nicas, ora dissonantes, e met\u00e1foras que redimensionam com acuidade nossa percep\u00e7\u00e3o dos sinuosos caminhos da consci\u00eancia e das emo\u00e7\u00f5es. A pobreza, o atraso, a opress\u00e3o, o racismo, a ignor\u00e2ncia e a degrada\u00e7\u00e3o moral est\u00e3o l\u00e1, mas de forma po\u00e9tica e muito mais suave do que nos livros anteriores. Trata-se de uma experi\u00eancia liter\u00e1ria afrobrasileira pura, em que o autor busca aumentar a sua pr\u00f3pria luta, em seus pr\u00f3prios termos e sua pr\u00f3pria cultura. O discurso po\u00e9tico de Cuti vincula-se ao do sociol\u00f3gico Leonardo Boff, que afirma que s\u00f3 quem tem na pele a opress\u00e3o pode liberar os oprimidos. E\u00e9 atrav\u00e9s da poesia que Luiz Silva \u201cCuti\u201d assume a voz do seu povo para o conforto, a esperan\u00e7a, e a for\u00e7a vital das indaga\u00e7\u00f5es mundanas exteriores e interiores.<\/p>\n

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Quer ver esta e outras mat\u00e9rias da revista? Compre esta edi\u00e7\u00e3o n\u00famero 183.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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