1 ano sem Marielle
de março de 2018. Marielle Franco participa de um fórum de mulheres na ONG Casa Das Pretas, na Lapa, Centro do Rio de Janeiro. Saindo dali, a parlamentar foi morta com quatro tiros na cabeça, junto com o motorista Anderson Gomes. À época com 38 anos e vereadora em primeiro mandato, Marielle Franco era negra, Bisexual e criada no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Um ano após o ocorrido, o caso ainda não foi elucidado.
Marielle usava seu mandato para lutar por causas relacionadas aos direitos humanos e denunciar a violência policial na cidade. De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, é o perfil típico das mulheres vítimas de violência letal em todo Brasil.
Em nota, logo do ocorrido, a Polícia Civil informou que trabalharia para dar resposta imediata ao crime. Um ano já passou. Nenhuma resposta. Nenhum esclarecimento. Em fevereiro deste ano, com 11 meses de indefinições, a Anistia Internacional cobrou soluções.
A RAÇA reuniu os familiares da ex-vereadora, num bate-papo. Franco como sugere o sobrenome da família. O local não poderia ser mais apropriado: o Centro Cultural Calouste Gulbenkian, onde funciona a sede da Ceam – Centro Especializado de Atendimento à Mulher. A legítima família de Marielle Franco. Com vez e voz.
LUYARA FRANCO, A ÚNICA FILHA
RAÇA: Como se sente, um ano após o ocorrido?
LUYARA: Fiz 20 anos em dezembro, meu primeiro aniversário sem minha mãe. Tive que amadurecer. A menina de antes de 14 de março de 2018 passou a ter responsabilidade. Ingressei na faculdade, estou ajudando minha avó financeiramente porque minha mãe ajudava em maior parte. Parte do dinheiro que recebo de pensão vai para ela. Eu me sinto muito mais independente, porém sem poder dar flashes de rebeldia. A minha mãe era o pilar da família e estou tendo que pegar esse lado, eu e minha tia tentando dar uma centrada. É muita coisa acontecendo e nós somos muito coração. A minha mãe era muito mais para o racional.
Raça: Como tem sido o seu dia a dia?
Luyara: Tento ocupar bastante a minha mente. Faço Educação Física na UERJ. De dia fico na faculdade, à tarde no trabalho. Participo do time de handebol, do time de líder de torcida e sou ritmista. Toco caixa, surdo e tamborim. Estou tentando preencher meu tempo com as coisas que eu já fazia antes, coisas que me fazem bem. Final de semana procuro ficar em casa.
Raça: Seu círculo de amigos mudou?
Luyara: As pessoas que já conviviam comigo, eu sempre puxo pra perto. Quem me conhece há pouco tempo, fica sabendo do acontecido, eu fico meio assim de falar, comentar. Tem quem queira minha amizade por interesse pelo rótulo de ‘filha da Marielle’. Meus amigos antigos estão na luta comigo desde sempre. Teve gente que eu sentia falta pra caramba e, infelizmente pelo ocorrido, se reaproximou de mim e agora a gente se vê mais do que antes. Mas chegou muita gente pra somar, como a Kênia Maria, amigos que eram da minha mãe, que eu não conhecia.
Raça: O que você espera da vida?
Luyara: Tenho me preocupado muito com a nossa saúde. Eu estava tendo muitas crises de ansiedade e depressão. Há pouco tempo que os remédios começaram a fazer efeito. Além da justiça, é claro, quero cuidar da saúde dos meus avós e da minha tia. Quero que resolvam o caso e que as pessoas parem de usar o nome da minha mãe. Tem gente se aproveitando descaradamente do nome, viajando, ganhando dinheiro, ganhando trabalho e nós estamos ficando de lado. Esqueceram a família, legitimando uma coisa e deslegitimando outra. A justiça em todos os âmbitos. Espero a constitucional e também a justiça do dia a dia, de ter caráter, ter empatia e sororidade com as mulheres. A gente vê a família majoritariamente matriarcal. É preciso um pouco mais de cuidado.
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