1 ano sem Marielle

Marielle usava seu mandato para lutar por causas relacionadas aos direitos humanos e denunciar a violência policial na cidade. De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, é o perfil típico das mulheres vítimas de violência letal em todo Brasil.

Em nota, logo do ocorrido, a Polícia Civil informou que trabalharia para dar resposta imediata ao crime. Um ano já passou. Nenhuma resposta. Nenhum esclarecimento. Em fevereiro deste ano, com 11 meses de indefinições, a Anistia Internacional cobrou soluções.

A RAÇA reuniu os familiares da ex-vereadora, num bate-papo. Franco como sugere o sobrenome da família. O local não poderia ser mais apropriado: o Centro Cultural Calouste Gulbenkian, onde funciona a sede da Ceam – Centro Especializado de Atendimento à Mulher. A legítima família de Marielle Franco. Com vez e voz.

LUYARA FRANCO, A ÚNICA FILHA

RAÇA: Como se sente, um ano após o ocorrido?

LUYARA: Fiz 20 anos em dezembro, meu primeiro aniversário sem minha mãe. Tive que amadurecer. A menina de antes de 14 de março de 2018 passou a ter responsabilidade. Ingressei na faculdade, estou ajudando minha avó financeiramente porque minha mãe ajudava em maior parte. Parte do dinheiro que recebo de pensão vai para ela. Eu me sinto muito mais independente, porém sem poder dar flashes de rebeldia. A minha mãe era o pilar da família e estou tendo que pegar esse lado, eu e minha tia tentando dar uma centrada. É muita coisa acontecendo e nós somos muito coração. A minha mãe era muito mais para o racional.

RAÇA: Você é uma jovem negra nesta implacável sociedade. Como lida com a visão do outro por toda a sua história?

Luyara: Demorei muito para me identificar como mulher negra. Quando era pequena, pedia a minha mãe pra alisar o cabelo, dizia que era morena, e quando mudei de escola aos 13 anos, pude sair um pouco da bolha do lugar em que eu vivia e estive de cara com a política, por mais que eu acompanhasse minha mãe desde pequena. Fui para um colégio de elite, a minha mãe ganhou bolsa de estudos, e me vi num lugar onde só tinha branco. Aí achei estranho, não era o que eu via antes. E passei a transitar nos dois mundos. Nos finais de semana eu ia pra casa do meu pai, na Maré. Estava sempre tentando identificar esses dois lados. Entrei para o grêmio estudantil e lá comecei a identificar. Fazia parte de um coletivo de mulheres e identificava que as próprias meninas criavam o racismo entre a gente. Daí comecei a entender o feminismo negro, a solidão da mulher negra, minha adolescência foi o que há… agora vejo o racismo mais institucional, tentando entender o sistema de cotas, eu não entrei na faculdade por cotas mas tenho bastante amigos que entraram. Outro dia saí de uma reunião de trabalho e fui jantar. Estava com meu telefone na mão e um copo. Um cara me chamou e pediu pra eu levar uma cerveja pra ele. Fiquei olhando e ele insistiu. ‘Você não deve ter entendido, traz uma cerveja pra mim’. Quando eu ia responder que não trabalhava ali, ele pediu desculpas. É por isso que minha mãe morreu lutando. É por isso que tenho que continuar a lutar. Sempre dá aqueles estalos: tem que seguir mesmo em frente, não pode parar.

Raça: Como tem sido o seu dia a dia?

Luyara: Tento ocupar bastante a minha mente. Faço Educação Física na UERJ. De dia fico na faculdade, à tarde no trabalho. Participo do time de handebol, do time de líder de torcida e sou ritmista. Toco caixa, surdo e tamborim. Estou tentando preencher meu tempo com as coisas que eu já fazia antes, coisas que me fazem bem. Final de semana procuro ficar em casa.

Raça: Seu círculo de amigos mudou?

Luyara: As pessoas que já conviviam comigo, eu sempre puxo pra perto. Quem me conhece há pouco tempo, fica sabendo do acontecido, eu fico meio assim de falar, comentar. Tem quem queira minha amizade por interesse pelo rótulo de ‘filha da Marielle’. Meus amigos

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