100 Dias do Governo Bolsonaro e a Questão Racial!

Próximo a completar cem dias no poder, o Governo Federal está  deixando perplexo até mesmo o mais pessimista oposicionista  do país. Ora pela inação, ora pelos equívocos e até mesmo pelo absoluto amadorismo com que os ministérios têm tratado questões fundamentais para o desenvolvimento do país, o Governo Federal está produzindo uma sensação de paralisia enervante. O bate cabeça é tão intenso que não dá tempo nem de respirar.

Poderia elencar aqui a declaração pitoresca da Ministra da Família que afirmou que “menina veste rosa e menino veste azul”, o Ministro do Meio Ambiente que desrespeitou desnecessariamente a memória de Chico Mendes, a imensa confusão que tomou conta do Ministério da Educação com dezenas de demissões e milhares de estudantes impedidos de cursarem o ensino superior por conta da paralisia do Fies e até mesmo a violenta troca de farpas entre o Presidente da República e o Presidente da Câmara que pôs em risco o projeto seminal do atual governo que é a Reforma da Previdência. Sem falar no imbróglio internacional com a interferência na crise venezuelana e a promessa de instalar a Embaixada brasileira em Jerusalém que podem nos trazer dois grandes problemas: um conflito armada na fronteira e a perda de bilhões de dólares do mercado árabe.

Mas, fiquemos no campo que nos cabe – a questão racial, assunto que a Revista Raça é referencia. O que mudou neste período? Que medidas foram adotadas para a continuidade do enfrentamento desse câncer social que é o racismo? Afora a presença obrigatória do Deputado Federal mais votado do Rio de Janeiro, conhecido como Hélio Negão ou Hélio Bolsonaro, que funciona como um escudo imagético as acusações de preconceito por parte do Presidente da República, a presença negra no atual governo praticamente inexiste. Não há nenhum negro nos Ministérios ou em qualquer cargo de relevância do Governo Federal. A certificação e titulação das terras quilombolas foram transferidas para  o Ministério da Agricultura, o que significa dizer, acabou-se, visto que o agronegócio é inimigo feroz das demarcações das terras quilombolas e indígenas. Já o Ministério da Promoção da Igualdade Racial foi sumariamente extinto e a Fundação Cultural Palmares está em estado falimentar.

A temática da igualdade racial foi praticamente varrida do discurso oficial e o que temos entre os partidários do atual governo é a desqualificação agressiva de qualquer reivindicação no campo racial e a  tentativa de extinção, via Congresso Nacional, do sistema de cotas raciais para o ensino superior no Brasil, como propõe, aliás,  o projeto de uma deputada baiana do PSL. Ou seja, a situação  da questão racial no Governo atual, é pra lá de dramática, é de puro e acelerado retrocesso. Mais que isto, não há nenhuma política pública de promoção da igualdade racial no Governo atual, nem perspectiva vir a ter.

Neste sentido, a pergunta que se impõe, é: O que fazer? Embora seja aparentemente fácil de responder, visto que a unidade no combate ao racismo e a defesa da igualdade racial é ponto pacífico entre todas as correntes do movimento negro, o quadro atual de desarticulação e desmobilização da sociedade em geral e do movimento negro em particular é um elemento preocupante. Mas, independente da agenda que tenhamos que construir para garantir e consolidar as conquistas alcançadas ao longo de anos de luta e resistência, há algo que é incontornável a construir – a articulação política. Articulação que possibilite a formação de uma frente suprapartidária e antirracista em defesa das cotas, das terras quilombolas e do combate ao extermínio da juventude negra.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

 

 

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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