Mais de 130 anos após a Lei Áurea, dados do IBGE mostram que desigualdades raciais persistem no Brasil
Por Rachel Quintiliano
A assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888 marcou o fim oficial da escravidão no Brasil – a abolição da escravatura. Último país das Américas a abolir essa prática, o Brasil libertou mais de 700 mil pessoas sem qualquer tipo de reparação, política de integração ou acesso à terra. Mais de 130 anos depois, os impactos da abolição incompleta ainda atingem a população negra de forma profunda.
Dados do IBGE mostram que a desigualdade racial segue marcante no país. Pessoas negras (pretas e pardas) representam mais de 56% da população brasileira, mas continuam em desvantagem em diversos indicadores sociais. Em 2022, o rendimento médio mensal da população preta ou parda foi de R$ 1.924, enquanto as pessoas brancas receberam, em média, R$ 3.099 — uma diferença de 62%. O levantamento faz parte do estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, disponível no site do IBGE.
Além da renda, há disparidades no acesso à educação, oportunidades de emprego e nos índices de violência. A cada dez pessoas assassinadas no Brasil, oito são negras, segundo o Atlas da Violência 2023. No mercado de trabalho, os brancos ocupam a maioria dos cargos de chefia e liderança, enquanto os negros enfrentam maiores taxas de informalidade e desemprego.
Por isso, o movimento social negro ressignificou o 13 de maio como o “Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo”, porque a abolição sem inclusão representou apenas o fim legal da escravidão, sem garantir liberdade plena nem cidadania para a população negra.
Enquanto o país não enfrentar as consequências históricas da escravidão com políticas públicas robustas de reparação e igualdade, especialistas afirmam que a abolição seguirá sendo uma promessa não cumprida.