134 anos de abolição, um negro como presidente?

Por: Maurício Pestana

Nesta sexta-feira, mais precisamente dia 13 de maio, comemora-se 134 anos da “abolição” da escravatura. Como de costume, várias reflexões serão realizadas; computaremos aqueles números que já estamos cansados de saber, demostrando que um trabalhador negro recebe em média um terço a menos do seu colega branco e se for mulher e negra recebe menos ainda por conta da dupla discriminação por ser mulher e negra.

Também vamos lembrar que somos as principais vítimas da violência, do analfabetismo, entre outras mazelas que o racismo estrutural que teve início na escravização da população negra em nosso país e se intensificou após a abolição da escravatura de 1888 e se consolidou de vez no século 20 sem nenhuma política pública de Estado que pudesse reverter esta situação de exclusão negra em terras tupiniquins.

E hoje o foco aqui, é falar em eleições, representação política e inclusão, é o momento também da reflexão de como a presença negra foi representada neste curto período nos espaços políticos.

Primeiro, é sempre bom lembrar que a abolição aconteceu quase junto com o nascedouro da nossa república que surgiu de um golpe militar. E de golpe em golpe passamos quase todo o século 20 sob esses regimes ditatoriais que negavam a existência do racismo no Brasil. Mesmo com o fim da ditadura a negação do racismo permeou diversas instituições, inclusive os partidos políticos que pouco fizeram para mudar esse quadro.

Não é preciso ser nenhum matemático ou um estudioso de estatística; é só puxar na memória e lembrar quantos negros disputaram, neste período de redemocratização do país, o governo do principal estado brasileiro, São Paulo? Um ou outro candidato foi negro.

O senado por São Paulo? Nenhum! A presidência da república? Nenhum!

Estamos falando de São Paulo, mas se olharmos para o resto do país e até mesmo estados como a Bahia ou Maranhão, de predominância negra em sua população, a história se repete; com raras exceções, não tivemos sequer candidatos concorrendo em todo o Brasil.

No executivo estadual dá para contar no dedo das mãos os governadores não brancos eleitos neste período. Alceu Colares no Rio Grande do Sul, Alboino Azevedo no Espírito Santo, Benedita da Silva no Rio de Janeiro e um ou outro que, mesmo não se declarando como tal, podemos identificá-los como não branco no Nordeste.

No cargo de presidente da república, nesses 134 anos de “abolição”, tivemos apenas Nilo Peçanha. Ele conseguiu chegar à presidência da república, mesmo vindo de origem humilde, pois era filho de pedreiro e sua gestão foi super bem avaliada à frente do estado do Rio de Janeiro, onde se caracterizou como um político dinâmico e eficiente, e o cacifou para concorreu e vencer a chapa como vice-presidente de Afonso Pena, em 1906.

Com a morte de Pena, em 1909, assumiu a presidência do país marcando seu nome na história como primeiro e único presidente negro do Brasil; ocupou o cargo durante 17 meses. Tornou-se o 7° presidente do Brasil República ficando no poder entre 1909 e 1910. Concluindo seu governo, que teve como lema “Paz e Amor”, seu legado foi a criação do primeiro sistema nacional de escolas técnicas no Brasil. Morreu em 31 de março de 1924.

De lá para cá nada, em 134 anos, o país mais negro do planeta fora da África, continua a contar nos dedos em todos os estados da nação. Seus representantes negros no legislativo e no executivo nem mesmo como candidatos, uma vergonha para uma nação que se diz comemorar 134 anos de abolição.

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