20 de Novembro: O País Racista e o Dia em Que Decidimos Sair da Ilha
O 20 de novembro é, para muitos, o dia em que a memória de Zumbi dos Palmares e a luta dos negros no Brasil ganham voz. Mas se pensarmos na história do Brasil como um personagem, ele poderia ser facilmente comparado àquele chato das festas: o país racista, que está sempre ali, no fundo da sala, ignorando os avanços e os gritos de “evolução”, se apoiando no conforto de suas crenças antigas.
É como se o Brasil fosse uma ilha, um lugar onde todos se dizem “coloridos” e “misturados”, mas onde, na prática, os negros acabam sendo as tartarugas marinhas nas praias: bonitos, exóticos, mas constantemente ameaçados e negligenciados. No fundo, sempre tivemos um país que finge que a questão racial não é uma questão tão grande assim, e que vai resolver com um simples “só fazer mais amigos”. Acontece que, como qualquer bom personagem racista, o Brasil tem seu modus operandi: disfarçar suas intenções com um sorriso largo e uma mão estendida, mas, no fundo, tem o poder de manter as coisas no mesmo lugar.
O 20 de novembro, então, se torna um dia não apenas de lembrança, mas de um convite à reflexão sobre a incapacidade do nosso país de se despir de seu racismo estrutural, que está em tudo. Desde a educação, onde negros e negras continuam a ser minoria nas universidades, até o mercado de trabalho, onde o cabelo crespo é uma questão maior do que os problemas do país.
A democracia racial no Brasil acaba sendo uma grande piada interna. Uma piada que ninguém quer rir muito alto, mas que, no fundo, todos entendem. No 20 de novembro, damos aquele sorrisinho sem graça, “falando sério, mas sem mudar nada”. E ainda assim, continuamos como aquela ilha, com uma praia cheia de tartarugas marinhas tentando sobreviver no mesmo mar revolto de sempre.
Por isso, ao invés de apenas relembrarmos, deveríamos ser mais ousados. O 20 de novembro deveria ser o momento em que, finalmente, deixamos de ser a ilha do “só falamos sobre isso uma vez por ano” e nos tornamos o continente da mudança genuína. Zumbi, com sua espada, ainda faria mais do que se contentar com um “hoje é só um dia”. Ele iria nos lembrar de que a luta continua e, mais importante ainda, que é hora de realmente sair da ilha e abraçar o continente inteiro.
Se o Brasil fosse menos racista, talvez nós, como sociedade, pudéssemos finalmente fazer mais do que apenas sorrir e adiar a verdadeira mudança. No 20 de novembro, o convite está feito: o racismo é o primo chato da festa, e precisamos deixá-lo para trás.