Deixa eu curtir o Ilê!

Em clima de Carnaval vamos fazer uma viagem pelo bloco afro considerado como o mais antigo do Brasil!

O ano era 1974. Em plena ditadura militar, foi fundado por jovens do bairro da Liberdade, formado majoritariamente por negros. Imersos no mundo da cultura negra tradicional baiana dos candomblés e sambas, os fundadores se inspiraram na “onda soul” que atravessou o país empolgando a juventude negra no final dos anos 70 e nas lutas globais de emancipação racial. Esse movimento musical foi responsável pela revolução no carnaval baiano com ritmos essencialmente africanos, favorecendo o reconhecimento de uma identidade peculiar baiana, marcadamente negra.

A proposta era ousada: formar um bloco só com negros. Obviamente a ideia desagradou a muitos de uma Bahia essencialmente racista, principalmente a imprensa e a elite branca. De acordo com o atual presidente do Ilê, o bloco surgiu dentro do Ilê Axé Jitolu, “com as bênçãos da Yalorixá Hilda Jitolu, com a intenção de mudar o paradigma do carnaval de Salvador”. Ao longo dos seus 40 anos, abordou vários assuntos ligados à temática negra, muitas vezes ausente dos currículos escolares do Brasil. Assim, de 1976 a 1988 todos os temas do Ilê contaram parte da história do continente negro, como o Watusi, em 1976; Zimbábue, em 1981; Angola, na comemoração dos seus 10 anos, em 1984 e Senegal, em 1988.

De 40 anos para cá, a luta do Ilê nas ruas de Salvador foi além da folia e se tornou a preservação, valorização e expansão da cultura afro-brasileira. É um dos espetáculos que mais emocionam quem vai ao Carnaval de Salvador, com apresentações quase sempre impecáveis em sua riqueza plástica e sonora. As formas expressadas na evolução dos movimentos de renascimento negro-africano, negro-americano ou afro-americano são traduzidas para um contexto específico da realidade baiana, sem perder de vista a relação de identificação entre todos “os negros que se querem negros” em qualquer parte do mundo, ressaltando sempre o caráter da origem ancestral, de um passado comum que os irmanam. Curiosidade: Na sua primeira apresentação, no carnaval de 1975, o Ilê Aiyê apresentou a música “Que Bloco é Esse”, de Paulinho Camafeu.

A noite da beleza negra

Dias antes do carnaval, acontece o maior concurso de beleza e exaltação da mulher negra no Brasil. É uma noite incrível! Cada mulher com seu turbante se veste com os mais lindos tecidos, ressaltando as cores do Ilê: preto, para representar o tom da pele, amarelo, a riqueza do país, o vermelho, sangue, as lutas travadas pela liberdade, e o branco prosperando a paz.

Um verdadeiro espetáculo regado de energia e emoção. Ser eleita uma Deusa do Ébano vai além de ser considerada a “mais bela das belas”. Compreende o reconhecimento da mulher negra e o papel de responsabilidade que vai exercer na cidade. É a luta contra o racismo, invisibilidade, machismo, valorização das próprias raízes e religiosidade da matriz africana, por tudo que esses transtornos podem plantar em cada psicológico afetado.

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