35 anos da Fundação Palmares!
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- agosto 22, 2023
Zulu Araújo
No dia 22 de agosto de 1988, ano do Centenário da Abolição da Escravatura no Brasil, foi criada a Fundação Cultural Palmares, primeira instituição do Estado brasileiro responsável por tratar das questões negras no país. Importante ressaltar que 1988 também foi o ano da Assembleia Nacional Constituinte, instrumento que consolidou a democracia no país, após 21 anos de regime ditatorial. Portanto, a Palmares é fruto tanto da luta incessante do movimento negro brasileiro pela reparação, assim como do apoio e aliança com os setores democráticos da sociedade brasileira.
A Fundação Palmares surgiu com objetivos ambiciosos: promover, preservar e difundir as manifestações culturais de origens negra no país, visando estimular a plena integração da população negra na sociedade brasileira. Esta formulação tinha algo de revolucionário no combate ao racismo no país. Pela primeira vez a cultura era o eixo central da nossa luta, a ferramenta primordial para o nosso desenvolvimento, assim como para a promoção da igualdade racial. Ou seja, a cultura era e continua sendo um elemento estratégico para o desenvolvimento, tanto da comunidade negra quanto da sociedade brasileira.
Lá se vão trinta e cinco anos de muitas conquistas, alguns graves retrocessos, mas sobretudo de muita luta. A Palmares, ao longo desse período se consolidou como a grande referência da resistência negra no Brasil e temos exemplos marcantes que comprovam essa afirmação. Foi a Palmares quem liderou em 2001, na III Conferência Mundial de Combate ao Racismo e Intolerância, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), a maior delegação presente na conferência, momento histórico, no qual foi aprovado por unanimidade de que o Racismo e o Tráfico Negreiro foram crimes de lesa humanidade, assim como a necessidade das Ações Afirmativas como medidas compensatórias.
Do mesmo modo foi a Palmares que liderou em 2006, na cidade do Salvador, a II Conferência dos Intelectuais da África e da Diáspora, que contou com a participação de mais de 3.000 mil intelectuais africanos e afros descendentes, bem como a presença do então Presidente Lula, do Ministro da Cultura Gilberto Gil e 18 chefes de Estado. Outro momento histórico do qual todos nós nos orgulhamos.
Também foi a Palmares que realizou o reconhecimento e a certificação de mais de três mil e quinhentos territórios remanescentes de quilombos, defendeu os quilombolas na justiça contra a grilagem violenta da qual continuam sendo vítimas, mas que aguardam ansiosamente a demarcação e a titulação da parte do Incra para que assim se faça justiça plena a luta secular dos quilombolas em nosso país.
Hoje, pela segunda vez na história do nosso país, temos a oportunidade de avançar nesse processo. Temos um Presidente da República democrata, (Lula) uma ministra da cultura negra e comprometida com essa luta histórica (Margareth Menezes) e um Presidente da Palmares, oriundo do movimento negro e que presidiu até recentemente, a maior instituição negra brasileira, o Grupo Cultural Olodum.
Os desafios são enormes, ainda mais após o desmonte brutal que a Fundação Palmares sofreu nos últimos quatro anos, mas afirmo sem medo de errar, temos muito que nos orgulhar do trabalho, da seriedade, da dedicação e da coragem com que a Fundação Palmares vem enfrentando todas as dificuldades no cumprimento da sua missão, ao longo desses trinta e cinco anos de existência. E por isso mesmo, tenho certeza que não será diferente nos próximos quatro anos. Viva a Fundação Cultural Palmares. Viva a Cultura Negra.
Toca a zabumba que a terra é nossa!
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