Entre os dias 8 e 16 de abril, cinco cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte vão receber sessões gratuitas da 7ª Mostra Cineclube Palmares. A cada parada — seja em escolas, bibliotecas ou centros culturais — o evento leva muito mais do que filmes: leva histórias, encontros e reconhecimento.
Com o tema “Cinema Negro Brasileiro Contemporâneo”, a mostra valoriza o olhar e a vivência da população preta periférica, exibindo 15 produções nacionais que representam com sensibilidade e potência o que vem sendo criado no cinema independente nos últimos anos. A curadoria é assinada pelo produtor cultural Matheus Antônio e pelo ator Renato Novaes.
“Todos os filmes têm pessoas negras em destaque, seja na atuação, na direção ou na produção. A gente quer que o público se veja nas telas, se reconheça, reflita, se emocione… e perceba o cinema como uma ferramenta real de mudança social”, compartilha Matheus, que idealizou o Cineclube Palmares em 2014, em Mateus Leme, sua cidade natal.
A proposta nasceu de um curso de produção cultural durante a Semana da Consciência Negra, e desde então se transformou num projeto afetivo e potente. A cada edição, a mostra foi ganhando corpo, passando por escolas, espaços públicos, festivais e até sessões online. Em 2024, com o apoio da Lei Paulo Gustavo, o evento expande seu alcance, chegando a Juatuba, Florestal, Pará de Minas e Betim.
“A ideia sempre foi essa: ocupar espaços que normalmente não têm cinema. Mostrar que nossa arte também pulsa longe dos grandes centros, com produções cheias de verdade, beleza, crítica e identidade”, reforça Renato, que é curador da mostra desde a quarta edição.
A seleção de filmes traz temas como ancestralidade, juventude periférica, religiões de matriz africana, rap, racismo, educação, inclusão social e muito mais. Tudo isso narrado por quem vive e sente essas histórias. Obras como Coragem, de Mel Jhorge; Rapsódia para Um Homem Negro, de Gabriel Martins; Trajetória: Julgamento 20 Anos do Rap, de Carlos Machado; e Ramal, de Higor Gomes, estão entre os destaques.
Outro momento emocionante desta edição são as homenagens: uma delas à cantora Elza Soares, com a exibição do clipe “A Mulher do Fim do Mundo”, e outra à atriz mineira Dona Zezé, através do filme Nossa Mãe Era Atriz, dirigido pelos filhos André Novais e Renato Novaes. “Duas mulheres com trajetórias imensas, que representam tanta força, tanta representatividade… é uma honra para a gente”, diz Renato.
Mais do que uma mostra de cinema, o Cineclube Palmares é uma experiência de afeto, resistência e conexão. É sobre ocupar espaços com dignidade, contar nossas próprias histórias, escutar e ser escutado. É sobre ampliar o acesso à arte e à cultura para quem raramente é convidado a participar desses encontros.
“Eu comecei esse projeto sem nenhum recurso, fazendo tudo do meu jeito, com o que tinha. Hoje, ver a mostra tomando essa proporção, sendo exibida em mais cidades, com apoio, com público, com artistas incríveis… é muito mais do que eu sonhei. Mas eu quero mais. Quero ver isso crescer, chegar a mais escolas, mais bairros, mais corações. Essa é a missão”, conclui Matheus.