Raça Indica

O caso do homem errado, de Camila de Moraes

Lançado em 2017, o documentário de 1h e 17 minutos desvenda a história e os desfechos de um homem negro que foi confundido com assaltante, o que seria o passe livre ou a autorização para sua morte. 

Camila de Moraes dirige e investiga o caso de Júlio César de Melo Pinto, assassinado em 1987, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A diretora entrevista familiares, amigos da vítima e ainda colhe depoimentos substantivos de jornalistas, repórteres, fotógrafos e ativistas do movimento social negro, que ajudam ela a nos contar essa história cruel e infelizmente atual, – a violência letal contra a juventude negra. 

O operário Júlio César não foi assassinado por ter sido confundido com um assaltante, como se isso já não fosse um crime terrível. O racismo o inclui na cena do crime e decreta o fim da sua vida. Ela anuncia: “Essa história é a mais pura verdade, embora retrate as maiores mentiras”. 

Em entrevista para a TV Brasil, Camila de Moraes conta que levou oito anos para produzir o filme. Ela expõe as dificuldades que os produtores e diretores negros e, sobretudo, as mulheres negras enfrentam para contar suas historias por meio desta linguagem. 

Atualmente o documentário está disponível na GloboPlay: https://globoplay.globo.com/o-caso-do-homem-errado/t/P2JV5WJVGs/ 

Trailer do filme: https://youtu.be/wuXFJgd9WnM

 

Lovecraft Country: não assista à noite se você é do tipo que se impressiona 

Estados Unidos da América, década de 1950, o racismo comendo solto e um jovem negro, sua amiga/namorada e seu tio partem para uma viagem. Mesmo com o Green Book ou algo parecido no porta-luvas do carro, eles entram em uma jornada aterrorizante, em um país segregado, na busca do pai do mocinho, Atticus Turner, interpretado por Jonathan Majors. 

Até aí, tudo bem. O mais interessante da obra disponível na HBO está no fato da produção ter escolhido, não por acaso, atores negros para estrelar uma série que parece ser uma resposta nítida ao racismo presente nos livros de Howard Phillips Lovecraft. 

Não li nenhum dos livros dele, mas soube outro dia, por um amigo, que as novas edições dos livros de H.P trazem explicações para contextualizar os leitores e as leitoras do quão racista ele foi. 

Sem dar muito spoiler, é incrível ver Rudy Dangridge, interpretada por Wunmi Mosaku, se confrontando com o racismo enquanto assume o corpo de uma mulher branca. 

A primeira temporada, com 10 episódios, é incrível. Com a direção de  Misha Green, os atores se superam. A história, os monstros, a magia, os mistérios e o racismo não deixam você pregar os olhos, exceto se você tiver medo. Eu tive!

Trailer Oficial: https://youtu.be/a7XlZJ4F3e0

 

As palavras de Martin Luther King, selecionadas por Coretta Scott King

Em 2012, quando estive nos Estados Unidos, fiz questão de ir até Washington DC. Queria visitar os museus e também ver a estátua de Martin Luther King Jr. localizada no memorial dedicado a ele, inaugurado um ano antes. 

Passei horas no local, arrebAs palavras de atada pela emoção do encontro com aquela escultura enorme. Eu, que quase sempre viajo sozinha, não hesitei e pedi ajuda para outro turista para fazer uma foto minha naquele momento mágico. 

Quando retornei ao hotel, fui ouvir no computador um CD que comprei na lojinha do museu com os sermões e discursos do pastor. É de chorar, é de reverenciar a capacidade dele em nos colocar em comunhão – obviamente para aqueles que têm fé em Deus, nos deuses, no divino e sonham com liberdade irrestrita. 

Ao voltar ao Brasil, enquanto andava pelos corredores de uma livraria, me deparei com um livro pequeno, de poucas páginas, de capa dura, com uma seleção de discursos dele, selecionados por sua viúva, Coretta Scott King, traduzido pela Maria Luiza X. de A. Borges e publicado pela Zahar, sob o título: As palavras de Martin Luther King. 

Entre os textos, o que mais me impactou foi “Fé e religião”. No segundo parágrafo ele diz: “A ciência investiga; a religião interpreta. A ciência dá ao homem conhecimento que é poder; a religião dá ao homem sabedoria que é controle. A ciência lida sobretudo com os fatos; a religião lida sobretudo com valores”. Esse trecho e os subsequentes me perturbaram, talvez porque fosse a primeira vez que estava me permitindo fazer uma reflexão sobre ciência e religião, sem pudor ou amarras. 

Recomendo a leitura de todo o livro, com especial atenção para esse texto sobre fé e ciência e também “Eu estive no topo da montanha”, um clássico, em que ele prevê e adverte: “[…] se algo não foi feito, e com urgência, para tirar os povos de cor de todo o mundo de seus longos anos de pobreza, seus longos anos de dor e abandono, o mundo inteiro estará condenado”. Esse foi o último discurso de Martin Luther King Jr, proferido em 03 de abril de 1968, em Memphis, no estado do Tennessee, na véspera de seu assassinato. 

Segundo a editora, as palavras do pastor e ativista dos direitos civis “são exemplos vivos de coragem, fé e integridade – uma fonte de inspiração que renova nossa crença no homem e nos ajuda a ver o mundo de forma mais humana e solidária. Um livro para não sair da mesinha de cabeceira”.

Saiba mais: https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=4101234

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Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

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