População negra e o suicídio no Brasil

De acordo com dados compartilhados pelo Ministério da Saúde, o número de suicídios é maior entre adolescentes negros

A campanha Setembro Amarelo acontece anualmente em diversos países do mundo. Ela foi instituída no Brasil por uma iniciativa conjunta, liderada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), a Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina.

Em 2021, o tema escolhido é “Agir salva vidas” e ressalta a importância de falar sobre suicídio, oferecendo apoio às pessoas que estão em sofrimento. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil está entre os países que ocupam o topo do ranking de pessoas afetadas pela depressão, aproximadamente 12 milhões de brasileiros sofrem com a doença e 18,6 milhões de pessoas no país sofrem com transtorno de ansiedade.

Para o psicólogo Everton Mendes, criador de um grupo que discute masculinidades, a rotina de vida que levamos atualmente e preocupações com o racismo nos coloca em constante estado de alerta e pode causar sofrimento psíquico. “Na dinâmica a qual somos submetidos, rotineiramente estamos estressados, cansados e fadigados, além de tudo isso, pessoas pretas possuem preocupações ocasionadas pelo racismo como o simples fato de não conseguirem entrar em uma loja e sair com tranquilidade. Isso faz com que tenhamos os níveis de cortisol mais elevado, por estar em constante estado de alerta. A consequência disso é estarmos mais propensos ao diabetes, hipertensão, imunodeficiência e outras doenças sendo a mais comum delas a depressão. É imprescindível a homens e mulheres pretes (sic) buscarem espaços para compreenderem como essa estrutura racista nos afeta e a partir disso desenvolver estratégias de autocuidado”, explica.

Everton Mendes é formado psicologia e integrante do Pluriversais, coletivo destinado a discutir masculinidades negras plurais
Foto: @felipebenicio

De acordo com dados do Ministério da Saúde, o número de suicídios entre adolescentes negros é maior. Além disso, o número de mortes por consumo excessivo de álcool também ocorre em maior quantidade entre pessoas negras. Fazer o recorte de raça e cor ajuda a perceber qual grupo da população está mais suscetível à sofrer com problemas de saúde mental, dados da própria cartilha do ministério, intitulada “Óbitos por suicídio entre adolescentes e jovens negros 2012 a 2016”, reconhece que o racismo é um dos fatores de risco para o suicídio.

“Em situações mais extremas, onde o racismo conseguiu despersonificar (sic) o sujeito, se faz necessário a busca por uma clinica ética e política, com profissionais que compreendam os atravessamentos sociais para um atendimento qualificado”, afirma Mendes ressaltando a importância dos cuidados com a saúde mental da população negra.

“Muitas vezes as queixas raciais podem ser subestimadas ou individualizadas, tratadas como algo pontual, de pouca importância, o que acaba culpabilizando aquele que sofre o preconceito”, atesta o relatório do Ministério da Saúde. O documento destaca que situações de rejeição, discriminação e racismo podem ser determinantes para que o suicídio seja consumado.

O Centro de Valorização da Vida atua desde 1962 na prevenção do suicídio. Com a ajuda de cerca de três mil voluntários que atuam recebendo mais de 10 mil ligações diárias, o CVV age para impedir que pessoas cometam suicídio e recebam acolhimento psicológico nos momentos de sofrimento.

“A dinâmica do capitalismo nos afasta de tudo o que é nosso. A terra, as plantas, o mar, os animais a espiritualidade, a comunidade e tudo isso nos trazem afetos positivos. Se manter distante dessas coisas acaba nos tornado cúmplices da estratégia de aniquilação que somos submetidos. Compreender saúde mental de uma forma ampla – não só reduzindo ao atendimento clínico – garante a nossa resistência em uma dinâmica menos danosa”, conclui o psicólogo Everton Mendes.

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