Ator baiano denuncia abordagem racista no aeroporto de Recife

Em abordagem, rapaz teve que soltar os cabelos para mostrar que não tinha nada suspeito em suas tranças

Na última quarta-feira (8), o ator e humorista baiano Sulivã Bispo denunciou a abordagem racista pela qual passou no Aeroporto de Recife. O ator estava de férias em Porto de Galinhas e voltava para Salvador quando passou pelo raio-x do aeroporto e o equipamento apitou, um funcionário abordou Bispo para fazer uma busca utilizando detector de metais que apitou ao passar pelas tranças do ator.

Ao jornal Correio, Bispo contou que usa alguns adereços nas tranças, mas que no Aeroporto de Salvador passou pelo raio-x sem problemas. “Meu cabelo está com uns tererezinhos, que estão com umas partes metalizadas. Passei no Aeroporto de Salvador e foi tranquilo, passei no raio-x e não apitou nada”, explica.

Mas na volta para sua cidade, em Recife, o equipamento apitou. Sulivã tirou os óculos pensando que poderia ter materiais sensíveis ao detector, sem resultado positivo, o humorista foi abordado por um funcionário da segurança que fez uma busca utilizando o detector de metais, passando-o pelo corpo do rapaz.

De acordo com Sulivã, o funcionário perguntou se ele queria ser revistado em uma sala reservada: “Ele disse: ‘você quer que eu te reviste aqui ou numa sala?’ Como já sei que nessas salas acontecem tudo, preferi ali”. O detector apitou quando passou pelo cabelo de Sulivã Bispo, que deduziu que fossem os adereços utilizados nas tranças, mas o funcionário insistiu em revistá-lo novamente alegando ser parte do protocolo e pediu que o rapaz retirasse os sapatos e nada foi encontrado.

O funcionário da segurança continuou a revista e pediu que Bispo soltasse os cabelos, no que de acordo com o ator, foi feito prontamente. “Ele começou a passar a mão dentro do meu cabelo, coçar meu couro cabeludo. Falei ‘isso faz parte do protocolo?’ e ele disse que fazia. E eu comecei a ficar constrangido”, conta.

Sulivã conta que foi liberado, mas que voltou para confrontar o segurança, questionando a abordagem. “Mais de quatro vezes passando mão no meu cabelo. Para mim que sou de candomblé, pessoa iniciada, passar a mão no meio da cabeça da pessoa é super agressivo. a parte principal do meu corpo, uma parte que é sagrada”, desabafou.

O supervisor da área foi chamado para conversar com Sulivã e afirmou que o ato realizado pelo funcionário da segurança fazia parte do protocolo. “Eu disse a ele: o protocolo de vocês está aqui (apontou para pele). Está na melanina. Porque pessoas brancas vieram atrás de mim com coisas que poderiam ser suspeitas e não pararam. O protocolo de vocês é o racismo, vocês são racistas”.

De vítima à acusado
Contrariado com o racismo apontado por Sulivã Bispo, o funcionário disse que ele estava praticando crime ao chamá-lo de racista. “O racismo quando não mata, ele enlouquece. Eles que têm que enlouquecer. A gente tem que devolver, infelizmente a gente tem que devolver dessa forma. Quando a gente conversa a gente é mimizento, quando a gente explica é racista reverso. Quando a gente grita, é criminoso?”, questiona. “Tem que gritar, constranger e dizer que isso nos fere”.

O rapaz não registrou o caso porque estava com medo de perder o voo, mas afirmou que conseguiu mostrar que o protocolo utilizado pela equipe de segurança é racista.

A administração do aeroporto emitiu uma nora pedindo desculpas ao ator e afirmando que os funcionários são treinados para realizar abordagens de maneira adequada. Veja um trecho do texto:
“O Aeroporto do Recife pede desculpas ao ator Sulivã Bispo pelo constrangimento e reforça que repudia qualquer tipo de discriminação, por isso abrimos um procedimento interno para investigar o caso. Ressaltamos que essa não é uma prática da nossa equipe e que os colaboradores recebem treinamento para que esse tipo de situação não ocorra”.

Sulivã compartilhou o relato em suas redes sociais, recebendo apoio dos usuários da rede.

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