Projeto impulsiona empreendedores negros no mundo da moda
Parceria entre Instituto C&A e aceleradora de empreendedorismo negro, PretaHub, criada por Adriana Barbosa da fundadora da Feira Preta, vai levar marcas de empreendedores negros para o marketplace da varejista
Uma ação entre a PretaHub – aceleradora do empreendedorismo negro no Brasil – e o Instituto C&A – braço social da C&A Brasil – vai levar coleções de seis marcas de empreendedores negros, participantes do programa Afrolab Moda by Instituto C&A, para serem comercializadas no marketplace da varejista, o Galeria C&A.
A partir de 20 de outubro, 530 peças das grifes Santa Resistência, Kioo Moda, Wmayden_brand, Mapa Lingerie, Vista Nove e Jazzngz estarão disponíveis na plataforma on-line.
“É uma ação inédita dentro desse mercado em que estamos inseridos e muito importante e significativa para os empreendedores e, também, para o Instituto C&A”, diz Gustavo Narciso, gerente executivo do instituto. “A importância dessa parceria possibilita que os empreendedores atuem em rede, desenvolvam um senso de comunidade e acessem uma rede potente de networking”, diz Adriana Barbosa, presidente da PretaHub e fundadora da Feira Preta.
Ao todo, 21 empreendedores negros, indígenas e afro-indígenas foram selecionados entre 379 inscritos para o programa Afrolab Moda by Instituto C&A, que contou com mentoria de profissionais da C&A e workshops com nomes do mundo fashion, como o estilista Isaac Silva.
“Vai ser um divisor na história da nossa marca”, diz Glauber Marques, que fundou a Kioo Moda com a esposa, Izabela Matias. O negócio surgiu depois que o casal buscou na loja de roupa infantil um pijama de herói que se parecesse com o filho Murilo. E não existia. “Todas as representações eram de pessoas brancas. Foi assim que surgiu a ideia de criar a marca para crianças KIOO, cujo nome tem origem na língua banto Suaíli e significa espelho”.
Haitiano, o modelo Jean Woolmay Denson Pierre, da marca Woolmay Mayden, quase não acreditou quando viu seu nome na lista dos aprovados. Ele começou a criar peças em 2019, em parceria com marcas de pequeno e médio porte. Neste ano, após um hiato por causa da pandemia, fez uma parceria com a KF Branding, de Porto Seguro (BA). A coleção foi apresentada em um desfile da Brasil Eco Fashion Week, na Semana de Moda de Milão deste ano. Apesar disso, não esperava ser aprovado no edital do Afrolab. “Foi uma escola para mim. Conheci muita gente, novas marcas. Procuraram realmente dar oportunidade para pessoas pretas”. As peças da marca Mayden são de uma coleção própria recém-lançada, conta o empreendedor, que mantém os projetos da empresa com o dinheiro que ganha como modelo.
Os produtos estarão reunidos dentro da plataforma em um espaço batizado de “Nosso Encontro”, iniciativa que o Instituto quer tornar perene promovendo marcas e empreendedores ligados a diversas causas sociais, explica Narciso.
Em suas redes sociais, a C&A vai realizar campanhas para divulgar a Feira Preta, plataforma que neste ano completa 20 anos e que se dedica a impulsionar o empreendedorismo e a cultura negra, além de contar as histórias das seis marcas selecionadas e seus criadores.
A ideia, diz o executivo do Instituto C&A que, em 2021 comemora 30 anos de atuação no Brasil, é que essas potências negras também tenham destaque no mundo da moda, “ainda extremamente branco, magro, heterossexual e, dentro da liderança, masculino”. Narciso destaca que embora o número de inscrições tenha sido expressivo no edital público, o fator de atenção foi a qualidade das marcas. “Eram muito bem desenvolvidas, bem construídas. Que já tinham venda on-line e mesmo 20 mil ou 30 mil seguidores nas redes.”
Por isso, com as campanhas de divulgação e a participação na plataforma de marketplace, o Instituto C&A e a Feira Preta pretendem ampliar os horizontes para os empreendedores negros. “A proposta não é de que preto compre de preto, mas que ocorra um consumo plural, multirracial. Trata-se de um fomento ao empreendedorismo negro, para que todos comprem de empreendedores pretos”, argumenta Narciso.
Esse é um valor compartilhado por Marques, da KIOO. “O que queremos é que seja normal para uma criança não-preta também usar uma roupa com uma personagem preta.”
Com uma metodologia multiplataforma, o programa Afrolab Moda proporcionou aos selecionados imersão de sete dias em que foram ofertados conteúdos exclusivos relacionados a autoconhecimento, criatividade, negócios, prototipagem e planificação, além de um módulo sobre Marketing Digital para aprimorar os conhecimentos em ferramentas como Google Classroom, Zoom, LinkedIn, WhatsApp Business, Market Up, Facebook e Instagram Ads.
Como complemento, eles conquistaram o incentivo financeiro de R﹩ 4 mil, a inclusão das marcas nos canais de venda da Feira Preta e a divulgação nas redes sociais da Feira Preta e do Instituto C&A. Após a etapa imersiva, as marcas trabalham na criação do Catálogo Afrolab Moda by Instituto C&A, além de participar de atividades com associados voluntários da C&A Brasil.