Ancestralidade
Por: Carol Barreto
Março é o mês de quais mulheres? Como mulheres negras, sempre nos fazemos esta pergunta, pois o dia internacional da mulher sempre foi comemorado como uma conquista de apenas uma parte da história, aquela contada por pessoas brancas. Devemos lembrar que um conjunto de fatos históricos relacionados às lutas pelos direitos sociais e políticos das mulheres, tem um marco que se dá na segunda metade do século 19, para as mulheres brancas. No entanto, antes disso, entre os séculos 16 e 19, muitas lutas foram protagonizadas por mulheres negras, mas até hoje essa trajetória é invisibilizada, assim como as nossas demandas na atualidade, quando ainda vivenciamos a permanência de uma existência subalterna.
Além de outros fatores de interseccionalidade, a conexão entre o racismo e o sexismo limitam as oportunidades, afetam a nossa subjetividade, assim como nos coloca no topo numérico de mortalidade.
Por isso, tão importante quanto a data de 08 de março ou 25 de julho, na mesma medida o dia 14 de março, que no calendário oficial do Rio de Janeiro está marcado como o Dia Marielle Franco, dia de Luta contra o Genocídio da Mulher Negra.
No Brasil, a nossa luta está bem distante de acabar, mas começamos a construí-la sob outros moldes. Uma tomada de consciência que algumas de nós reavivamos quando em contato com os traços da nossa ancestralidade, nos faz lembrar de uma força que resiste por meio da beleza da espiritualidade, da alegria e do bem viver.
Por isso, trago aqui como celebração dessa memória, o trabalho intitulado “Ancestralidade”, assinado por Juh Almeida, que convida três gerações – avó, mãe e filha – como retrato dessa memória que resiste com leveza.
Juh Almeida declara que sua vida e obra estão sempre em harmonia. Como realizadora audiovisual, graduada no Bacharelado Interdisciplinar em Artes com concentração em Cinema, na Universidade Federal da Bahia, a artista se vê conectada a toda atividade humana ligada às manifestações de ordem estética eco-municativa.
Para Juh Almeida, a série fotográfica “Ancestralidade” trata de memória e afeto como retratos de busca: “– É olhar para dentro, olhar para os antigos, para entender e construir nossa identidade hoje. Ancestralidade é onde tudo começa, é o lugar em que se compreende o individual e o coletivo. Quando ouvimos as mais velhas nos fortalecemos e a partir daí se inicia o processo de resistência. Buscando o nosso
lugar de identificação com o passado, compreendemos o presente no tempo e no espaço, quer seja físico ou imaginário e percebemos como a memória é um processo indissociável da nossa construção, pois é através dela que nos vinculamos às nossas narrativas, que, contadas pela boca das mais velhas, possibilita nos reafirmarmos e escrevermos com presença ativa nossa história e assim idealizar o futuro”.
Convido vocês a celebrar o mês de março com a beleza e a força dessas imagens, almejando desenhar um futuro onde todas as mulheres, tratadas à medida de suas diferenças, possamos ser vistas como parte integrante da humanidade!
Ficha Técnica
Série Fotográfica: Ancestralidade
Fotografia: Juh Almeida / @juh_fotografia
Fotografadas: Annie Ganzala, Lila Raio de Sol e Dona Lina
Apoio: Ajeum da Diáspora e Jóia dos Orixás