Threads: um museu de grandes novidades.
Colunista / Autor: Juliano Pereira
Você já experimentou o Threads? Lançado há poucas semanas, a nova rede social da Meta, dona também do Instagram, Facebook e WhatsApp, nasceu batendo recorde: atingiu 100 milhões de usuários em apenas 7 dias. A proposta é similar à do Twitter, plataforma do controverso bilionário Elon Musk. Há quem diga que é uma ameaça real ao Twitter. Outros veem o Threads como mais uma modinha. A real é que ninguém sabe quem vencerá, mas a fórmula não muda: ganhar dinheiro através de cada like, post ou comentário.
Nesta disputa, o alvo continua o mesmo: você, eu e as bilhões de pessoas no mundo. Quanto mais usamos esses aplicativos, mais dados geramos para essas empresas nos conhecerem, nos monitorarem e sugerirem o que comprar, em quem votar, etc. Quanto mais a plataforma sabe sobre nós, mais valiosa e poderosa ela é.
Ok, mas e eu com isso, Juliano? Olha só. Essas empresas também têm boletos para pagar e precisam manter um time de gente inteligente e cara trabalhando. Se possível, criando, diariamente, novidades para nos manter conectados. No Brasil, por exemplo, uma pessoa que trabalha em tecnologia ganha, em média, R$ 5 mil/mês ¹. Para posições-chave, o salário pode chegar a 20, 30, pasmem, 40 mil reais.
E se a conta é alta e você não paga para usar a plataforma, alguém vai bancar a conta. Os anunciantes, no caso. Eles pagam por cada palavra-chave que pesquisamos. Quando você digita futebol ou música, certamente, aparecerá um anúncio na sua tela. A coisa é sofisticada. Idade, CEP, preferência musical, páginas de meme, pessoas que você segue, tudo entra na equação.
“Quando você não paga para usar algo, o produto é você”. A frase do jornalista americano Andy Lewis resume essa história toda. E agora ainda temos o Threads.
- Ah, Juliano! Você é contra a tecnologia? Não trabalha com isso?
E respondo: a tecnologia é ferramenta e deveria servir ao nosso interesse. E não o contrário. Se ela domina nosso comportamento, ficamos dependentes. Igual ao álcool, cigarro, remédios para dormir. Viramos uma sociedade passiva, que não dialoga nem questiona, rolando tela 24×7. Isso, sim, é um verdadeiro apocalipse zumbi. A quem interessa ou é conveniente essa inércia tecnológica?
Bingo: a quem ganha dinheiro com isso. Seja com a venda de anúncios, ou da nova tecnologia que aumentou o número de pessoas engajadas na tela. Ganhar dinheiro é do jogo. Mas fica a pergunta: é legítimo gerar riqueza criando dependência e viciando seu cliente?
Não! Como todo vício, os efeitos colaterais afetam não apenas o indivíduo, mas toda sociedade. A conta é alta. Fake news, polarização política, ansiedade generalizada, discurso de ódio, atentados a escolas são alguns exemplos. E com as emoções à flor da pele, conversas necessárias sobre, por exemplo, o racismo e o machismo estruturais, têm alcance limitado. Isso porque, para manter o engajamento alto, as plataformas mostram conteúdos e pessoas que pensam parecido com você. “É que Narciso acha feio o que não é espelho”.
Não sou bedel nem fiscal dos bons costumes, mas não somos maduros para usar mais uma rede social. Na disputa entre Threads ou Twitter, quem perde é o lado mais fraco, nesse caso, a sociedade.