Ei, brother, seu voto conta.

O Brasil parou novamente e só se fala de Big Brother. Independentemente de gostar ou não, o BBB é um dos programas de maior audiência da televisão brasileira.

Nos últimos anos, o programa refletiu desafios reais da sociedade. Mergulhou numa onda de polarização e de temas como a diversidade. E mesmo com os debates e as explicações do Tadeu Schmidt, a Globo, nesta edição, foi além e criou um novo modelo de votação. A intenção, imagino, seja reduzir os efeitos da polarização. Uma mudança que vamos acompanhar do sofá e que espero jogar luz sobre as futuras eleições do mundo real.

As últimas edições do BBB abriram espaço para mais diversidade, com Gil do Vigor, Thelma Assis e Linn da Quebrada refletindo o Brasil pra fora da Zona Sul do Rio ou dos Jardins. Ao mesmo tempo, pouco evoluiu na fórmula do pão e circo, que segue igual ou pior. Imagino que, daqui a 30 anos, será vergonhoso falar de provas de resistência ou do jogo da discórdia.

“_ Então, meu neto, a gente torcia para as pessoas se esculhambarem ao vivo”.

Num paralelo com as eleições e brigas políticas recentes, o que avançou mesmo foi o uso das mídias sociais e da tecnologia no BBB. Elas impulsionaram o engajamento, atraindo bilhões de reais em marketing, patrocínios, pay-per-view. Diversas vezes, registrou-se 500, 600 milhões de votos, chegando à surpreendente marca de 1,5 bilhão de votos no paredão da Manu Gavassi e do Felipe Prior, em 2020.

O voto foi banalizado. Surgiram fãs-clube (como os minions do filme), com direito a bots para aumentar exponencialmente o número de votos. Essa massa votando infinitas vezes com o fígado tem seus riscos, um deles, o de reproduzir e amplificar vieses inconscientes. Exemplo: nas 23 temporadas do programa, apenas 4 pessoas pretas venceram a disputa e apenas uma era gay.

No BBB 2024, o voto passa a ter dois pesos. O primeiro de cada pessoa será vinculado ao CPF e vale metade dos votos válidos. Se quiser votar mais vezes, tudo bem, mas ele irá se somar ao da torcida. Que é o modelo antigo. Ou seja, não basta ter a maioria dos votos absolutos, mas também um bom número de CPFs votantes.

A ideia parece boa, ao diminuir a força de grupos organizados e dando mais peso ao voto único. Ela segue uma tendência de países que já compreenderam que os modelos tradicionais de voto, que datam da Grécia antiga, precisam de revisão.

Veja bem, não estou falando de queimar a urna eletrônica, mas de testar novos modelos. Imagine votar para prefeito por ordem de preferência. Nesse sistema, em testes no Alaska, as pessoas fazem uma lista de pessoas candidatas preferidas. Ao invés de escolherem uma candidata, podem escolher três. Se uma delas receber mais da metade dos votos, a eleição é encerrada. Se não houver maioria, a pessoa com menos votos é eliminada e as demais passam para um segundo ciclo de votação, que segue até que alguém obtenha a maioria dos votos.

O BBB se adiantou nesse desafio de equilibrar forças. Será que não está na hora de rever como a gente toma decisões em sociedade? Para 2024, teremos eleições de prefeitos e vereadores e, infelizmente, o modelo de votação será o mesmo. E a polarização seguirá forte.

Sim. Eu sei que eleição não tem o mesmo apelo do BBB. Acompanhar a prova do líder gera mais engajamento do que acompanhar as propostas de cada candidato. Cada um de nós, brothers ou sisters, só tem um único voto e ele é valioso. A vida real não tem big fone, nem anjo, nem paredão toda semana. Mas o jogar o voto no lixo, isso sim, vai custar 4 anos na xepa.

Colunista: Juliano Pereira

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