A HISTÓRIA DO ATOR DÉO GARCEZ
Saiba mais sobre a história e a carreira do ator Déo Garcez
TEXTO: Claudia Canto | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
Encontramos Déo Garcez em um bar no centro de São Paulo, mais exatamente na Praça Rossevelt, local conhecido por abrigar diversos artistas de teatro e pessoas alternativas da noite paulistana. O ator vinha da gravação de seu mais recente trabalho na TV, a novela Carrossel, exibida pelo SBT. Na trama ele interpretava o Sr Morales, que na versão mexicana era um homem de origem humilde. Na versão atual fazia um contraponto ao personagem de Jean Paulo Campos, o Cirilo, que na trama vem de uma família humilde e sofre por ser negro e pobre.
Déo já atuou nas principais emissoras de televisão do país, e sua primeira aparição na telinha foi na novela Chica da Silva, na extinta Rede Manchete. Seu personagem, o “mucamo” Paulo, era sensível e deu muito que falar. Curioso é que, na sinopse da trama, o personagem não teria muitas falas, deveria apenas abusar das expressões faciais. Déo relembra este início. “Quando cheguei à seleção, quase desisti. Tinha muito negro bonito e talentoso. Mas, alguma coisa me dizia para ir em frente. Lembrei-me da minha mãe, que sempre apostou em mim, e resolvi encarar aquele teste como se fosse o mais importante da minha vida. Quando o diretor Walter Avancini me viu interpretando, gostou muito e acabou me escolhendo. O personagem deveria entrar mudo e sair calado.” (Neste momento ele dá uma enorme gargalhada e continua). “Lembro que ficava ensaiando horas e horas no meu quarto olhando no espelho, mesmo sabendo que o personagem teria poucas falas, fazia laboratório sozinho. Sempre fui determinado e extremamente focado.
Com isso, o personagem ganhou mais profundidade e se tornou um dos principais coadjuvantes da novela. A relação do Paulo com o Zé Maria (Guilherme Piva) e a Elvira (Giovanna Antonelli) era bem interessante. Nas ruas eu percebia como o personagem era querido”, conta o ator, emocionado.
Mas até conquistar o seu primeiro papel na TV, as coisas não foram nada fáceis para ele. “Tive uma infância complicada, minha mãe trabalhava muito para sustentar meus irmãos e, depois que separou do meu pai, ficou muito mais difícil, ela teve que assumir tudo sozinha e foi trabalhar como empregada doméstica.”
Em casa, sua veia artística sobressaía e suas brincadeiras eram sempre de faz de conta. E foi aos 11 aos de idade que Déo se deparou com aquilo que mudaria a sua vida para sempre. “Quando a minha turma da escola foi ao teatro assistir uma peça infantil, fiquei em estado de êxtase, aquilo era o que eu queria, eram as brincadeiras que eu fazia em casa. Decidi que a minha trajetória seria aquela. Depois de um tempo, voltei ao teatro e procurei a bilheteira, que me indicou o diretor, e foi assim que ingressei no Teatro de Expressão do Maranhão”, explica, sem deixar passar o fato de que só conseguiu porque teve o apoio da família.” E ele volta a dar boas gargalhadas ao relembrar sua ousadia em procurar a bilheteira.
Mas as dificuldades em São Luís do Maranhão eram muito grandes e a família se mudou para Brasília em busca de novas frentes de trabalho. Na cabeça de Déo, porém, o sonho de ser ator havia virado obsessão. Mais tarde, ingressou na faculdade de Artes Cênicas. “Foi muito difícil, mas a minha determinação era maior que as dificuldades, trabalhava durante o dia e ainda ajudava a minha mãe”, diz. O sacrifício valeu a pena, Déo tornou-se bacharel, formado pela Fundação Brasileira de Teatro, além da Licenciatura Plena em Artes Cênicas. O título possibilitou que ele trabalhasse também como professor, tarefa que lhe trouxe muita experiência e sabedoria. “Foi uma época muito interessante, aprendi muito com os meus alunos e eles comigo, uma troca muito saudável”, afirma.
O menino que queria ser ator conquistou o seu espaço e hoje, aos 47 anos, já soma 32 de carreira e dezenas de trabalhos na televisão, cinema e teatro (são mais de 20 espetáculos nos palcos). São Luís e Brasília ficaram nas lembranças. Hoje o ator mora no Rio de Janeiro. “Vir para o eixo Rio-São Paulo foi uma necessidade, as oportunidades são melhores. É uma pena, mas infelizmente ainda é assim.”.
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