1936 – O Nazismo e as Olímpiadas
Colunista: Zulu Araújo
Os Jogos Olímpicos de 1936, na Alemanha, haviam sido concebidos pelos nazistas para ser o grande momento de afirmação da supremacia branca ariana diante do mundo. Mas, para surpresa de todos, teve como grande vencedor e astro principal das Olímpiadas – o negro norte americano Jesse Owens. Para completar, Owens foi o primeiro atleta na história das Olímpiadas a ganhar quatro medalhas de ouro.
Aparentemente, a notícia da vinculação entre Jogos Olímpicos e Nazismo, deveria ser inconcebível, diante do espírito olímpico cantado em prosa e verso pelo seu patrono Pierre de Coubertin.
Ledo engano. No ano de 1936, mais precisamente em agosto, quando da realização as Olímpiadas em Berlim, na Alemanha, o nazismo estava a pleno vapor e não se furtou a fazer uso escancarado das suas teses racistas, defendendo de forma explícita a superioridade da raça alemã diante das demais nações.
Para tanto, contou com o apoio do Presidente do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, Avery Brundage, declaradamente racista e antissemita e que mais tarde veio a assumir a Presidência do Comitê Olímpico Internacional, assim como com o apoio dos Presidentes dos Comitês Olímpicos da Bélgica, Graf Henry e da Suécia J. Sigfried Edstrom, também antissemitas e defensores do nazismo.
Em que pese a forte campanha que grassou por vários países a exemplo dos Estados Unidos, França e Inglaterra contra a realização dos Jogos Olímpicos na Alemanha, o nazismo foi vitorioso, até porque havia inúmeros adeptos e defensores do fascismo e do nazismo mundo afora.
Avery Brundage, por exemplo, que estava determinado a enviar a delegação olímpica dos Estados Unidos para os jogos olímpicos, além de usar todo o seu prestígio, afirmava publicamente que os protestos contra os Jogos, era coisa de agitadores judeus e comunistas. E que “o mundo tem muito o que aprender com a Alemanha”.
Já o representante da Suécia, dizia para quem quisesse ouvir que os protestos eram manipulados pelos judeus norte-americanos e que por isso mesmo, era mais do que urgente uma “ação nazista contra os judeus para que a Alemanha continuasse a ser uma nação branca”.
E nesse diapasão, ao longo de duas semanas do mês de agosto de 1936, o regime nazista liderado por Hitler abriu as Olímpiadas com um público recorde de mais de 110 mil pessoas, para que os nazistas provassem ao mundo sua superioridade.
Os jogos tiveram inicio com a entrada triunfal e espetacular de Hitler no estádio, ao som de bandas marciais e um grandioso desfile das tropas da SS. Estiveram presentes nos Jogos, 49 países, com 4066 atletas, sendo que 328 eram mulheres, que disputaram 19 modalidades distintas.
Mas, no meio do caminho havia uma pedra. Uma não, quatro pedras. E todas eram negras. Isto porque os alemães haviam selecionados os seus atletas na certeza de que provariam ao mundo a superioridade da raça ariana. E quatro atletas afro-americanos puseram por terra o sonho nazista, ao vencerem os alemães em modalidades consideradas de elite.
Cornelius Johnson, no Salto em Altura – Medalha de Ouro, James LuValle Corrida de 400-Metros, Medalha de Bronze, Ralph Metcalfe, Corrida de Revezamento 4×100-metros – Medalha de Ouro, 100-Metros Rasos – Medalha de Prata e Jesse Owens 100-Metros Rasos – Medalha de Ouro 200- Metros Rasos – Medalha de Ouro Salto em Distância – Medalha de Ouro Corrida de Revezamento 4×100-Metros – Medalha de Ouro.
Mas, nem mesmo com esse feito espetacular, os atletas afro-americanos que competiram nas Olimpíadas de 1936, ganhando 14 medalhas, se viram livre do racismo, no retorno ao seu país.
Enfim, mais uma vez, a retorica da supremacia branca foi derrotada, mas não eliminada. Em 1968, no México, mais uma vez ela se apresentou com toda a força. Mas, isso contaremos no próximo capítulo.
Toca a zabumba que a terra é nossa!