Racismo quando não mata, deixa aleijado

Zulu Araújo 

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”
Nelson Mandela

No último dia 12 de agosto, do corrente ano, o estudante Pedro Henrique Oliveira dos Santos, de 14 anos, bolsista do Colégio Bandeirantes, na capital paulista, se suicidou. Pelo que vimos na “Nota de Esclarecimento” do Colégio, Pedro Henrique será apenas mais um número na estatística daqueles que sucumbem ao bullying

Na verdade, ele não resistiu ao preconceito e ao racismo do qual era vítima no Colégio. 

Pedro, era um garoto pobre que morava na Vila dos Remédios, (uma comunidade pobre e histórica da cidade de Osasco/SP) juntamente com os pais e dois irmãos e que havia sido agraciado com uma bolsa de estudo, por conta do seu excelente desempenho escolar.  

Ele era “Preto, pobre, gay e periférico”. 

Pedro, estudava no Colégio Bandeirantes, fundado em 1934, e conhecido como um baluarte educacional da elite paulistana, pela qualidade do ensino ministrado. Lá estudam aproximadamente 3.000 alunos, em sua grande maioria oriundos da elite econômica do estado. 

O colégio é tão chique que por lá passaram, inúmeras personalidades da política brasileira, a exemplo de Mara Gabrilli, ex-Senadora da República e o atual ministro da Fazenda Fernando Haddad. Mas, nada disso foi capaz de impedir que o jovem Pedro Henrique, tirasse sua própria vida. 

Há algum tempo ele vinha dando sinais de que sua vida no colégio estava ficando insuportável. Era excluído, achincalhado, humilhado. O colégio não deu atenção e sua família, de origem pobre não sabia como lidar com uma situação como essa. Afinal, estudar naquele colégio era um privilégio. 

Pedro era um estudante talentoso, estudioso, atencioso, educado, inteligente, disciplinado. Possuía todas as qualidades que a elite brasileira imagina que deva pertencer exclusivamente aqueles que são oriundos das suas hostes. Mas, tinha um grave defeito. Ele era preto. E além de preto, era pobre e além de pobre era gay. 

Aí, era demais. Preto bom só morto e se for gay e pobre, morto duas vezes. 

É impressionante a resiliência do racismo na sociedade brasileira. Apesar de todas as medidas adotadas pelos governos, frutos da luta do movimento negro. Apesar das leis, como a Lei 10.639 que incluiu na grade curricular do ensino fundamental, o ensino da História da África e da Cultura afro-brasileira. 

Apesar da Lei Caó, que transformou o racismo em crime inafiançável. Apesar de todas as manifestações, protestos e indignações da comunidade negra brasileira. O racismo continua firme e forte e fazendo suas vítimas. É sempre uma crônica de uma morte anunciada.

Dessa vez, a vítima foi um jovem promissor de apenas 14 anos. 

A impunidade, alicerçada no cinismo com que a elite brasileira trata o racismo é uma das grandes responsáveis por tragédias como esta. Os “filhinhos de papai”, que expressam sem limites o supremacismo branco que convivem em suas casas, continuarão livres, leves e soltos para continuarem fazendo suas vítimas. 

Afinal, para os racistas, esse será apenas mais um caso que se resolve com uma nota pública afirmando que o Colégio Bandeirantes não tolera a discriminação e adota todas as medidas para a promoção da igualdade. 

Portanto, não nos esqueçamos, o combate ao racismo é a celebração da vida. Vida sem estigmas, preconceitos, discriminações ou violências de qualquer ordem. Viva a vida.  

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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