“Preto não vota em preto, mulher não vota em mulher e pobre não vota em pobre”. Será?

Essas três afirmações acima estão presentes na boca e na cabeça de qualquer político conservador. Mais ainda se ele for branco, do sexo masculino e rico, afirmaria qualquer militante progressista no século passado.

Mas, o mundo mudou. E como mudou. O debate político que vem ocorrendo nas grandes cidades brasileiras, nas eleições municipais de 2024, tem jogado por terra essas afirmações e um fenômeno curioso está tomando conta do cenário eleitoral.

Pobres, pretos e pretas de direita, votando e defendendo as teses da direita.

Ou seja, defendendo aqueles, que ao longo da história tem sido os responsáveis pelas desigualdades de todas as ordens: social, econômica, política, ambiental e racial. Detalhe importante: isso não está ocorrendo apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Inclusive em países com larga tradição democrática e de esquerda, como a França.

Alguns analistas políticos afirmam que dentre as razões para o crescimento desse fenômeno, está o anacronismo do discurso, das propostas e das ações da esquerda tradicional.

Para eles, a era industrial acabou e o operário, bem como a “classe operária”, símbolo da revolução socialista, que transformaria o mundo, foi junto. Segundo esses analistas, o que gera riqueza no mundo atual, é a educação (educação de qualidade, claro) e essa tem sido para poucos. 

Nesse novo cenário, a esquerda e os progressistas, perderam o discurso e o foco. As grandes preocupações dos setores progressistas atualmente no mundo, não são mais econômicas e sim socioculturais. O discurso cada vez mais identitarista e individualista tem ocupado esse espaço, enquanto a maioria da população “come o pão que o diabo amassou” para sobreviver.

Vivemos a era da automação, da cibernética e da tecnologia digital, além das redes sociais que serviu, segundo Umberto Eco, para dar “voz aos imbecis”, mas também aos espertalhões, fascistas, racistas, homofóbicos e predadores de todas as ordens.

E quem vive na insegurança, como a maioria do povo brasileiro, com violência por todos os lados (milícias, polícias e trafico), quem está fora desse novo modelo econômico, (por não ter um bom nível educacional, para acessar bons salários), quem vive nas periferias (sem acesso à educação, emprego e saúde), pensa que a solução é voltar para o que era antes (o mundo industrial). Até porque nenhum benefício desse novo mundo chega para elas.

E a extrema direita tem crescido acenando exatamente para esse futuro do passado.

Para a maioria da população brasileira, não basta a sinalização de virtudes (quase sempre nas redes sociais) em defesa do ambientalismo, dos direitos humanos, da promoção da igualdade e das questões de gênero.

É cristalino que a sociedade brasileira está em busca de uma nova saída. A insatisfação está derramando pra todo lado e se isso não for devidamente compreendido e traduzido em políticas públicas que beneficiem essa grande maioria de “condenados da terra”, podemos caminhar para o abismo da intolerância política, da violência e da ditadura.

Portanto, fiquemos atentos as eleições municipais de 2024, votemos naqueles/as que buscam uma saída democrática para o país, que possuem propostas que melhorem a vida do nosso povo e que pare com essa matança desenfreada da nossa juventude e que faça da educação a grande bandeira dessa caminhada.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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