O peso do voto feminino e negro nas eleições

Uma fala do candidato Pablo Marçal esta semana chamou atenção não só por conta da contundência, do tom preconceituoso e discriminatório, mas também por constatar uma realidade quando se observa a presença negra e feminina nas câmaras legislativas ou no Poder Executivo brasileiro. Disse o candidato: “Mulher não vota em mulher porque é inteligente. Se fosse assim, pobre votaria em pobre e negro votaria em negro”. A presença de negros, mulheres ou pessoas vindas das camadas mais simples da nossa sociedade é quase nula nos postos de decisão nos espaços de poder político no Brasil.

O que o candidato, além da ofensa machista com relação às mulheres, esqueceu de dizer é que as eleições em nosso país têm um histórico de exclusão, de discriminação, seja pela ação masculina presente na direção de grande parte das lideranças partidárias, seja pelo poder financeiro que ainda é masculino e branco, o que leva a processos de exclusão já na largada, onde mulheres, negros e pobres raramente são alçados a concorrer com chances de vitória, retroalimentando um sistema de exclusão onde, de forma simplista, políticos em geral de direita disseminam esse tipo de frase altamente preconceituosa e hostil.

Esse processo excludente já foi analisado, estudado e até apontado como uma das deficiências do nosso processo democrático. Estudos realizados com base na falta de representatividade nos espaços de poder político apontam inclusive uma das vulnerabilidades e descrédito em nossa democracia. Essa ausência das parcelas expressivas da nossa sociedade resultou há algumas décadas nas cotas para mulheres nas disputas eleitorais, obrigando os partidos a lançarem no mínimo 30% de candidaturas femininas em todas as eleições, o que também gerou o jeitinho brasileiro de maquiar a lei, colocando mulheres nas disputas sem nenhuma condição financeira e política de vencer uma disputa eleitoral, onde elas aparecem muitas vezes como figurantes para cumprir as cotas sem nenhuma condição de vitória, fatos ignorados pelo candidato Marçal em sua fala.

Cientes desses problemas e mais uma vez na tentativa de equacionar o problema central, que é o econômico, foi criada a lei que obrigava os partidos políticos a aumentarem e priorizarem o financiamento das campanhas para mulheres e pessoas negras nas últimas eleições, o que foi ignorado e mais uma vez alguns partidos que burlaram essa lei e quando foram multados se auto anistiar em uma ação vergonhosa desse nosso congresso onde apenas um partido votou contra a anistia. Por essas e outras razões a fala do candidato se torna rasa, inapropriada, preconceituosa e acima de tudo antidemocrática, proporcionando mais preconceito e machismo no mundo já altamente excludente da política brasileira.

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jornalista CEO e presidente do Conselho editorial da revista RAÇA Brasil, analista das áreas de Diversidade e inclusão do jornal da CNN e colunista da revista IstoÉ Dinheiro

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