Universidade em Portugal cancela curso antirracismo após ataques na internet

Imagine uma pós-graduação sobre racismo e xenofobia onde todos os professores são brancos. Parece contraditório, certo? Foi exatamente isso que aconteceu na Universidade Nova de Lisboa. A instituição anunciou uma Pós-Graduação em Racismo e Xenofobia, mas não contratou nenhum docente negro ou de outras minorias, o que gerou protestos intensos na internet e levou ao cancelamento do curso.

A controvérsia começou com a divulgação do curso no site da Faculdade de Direito da Universidade de Nova Lisboa. Além da ausência de professores negros, o módulo intitulado “O racismo existe mesmo?” foi um dos pontos que mais causou desconforto, levando afrodescendentes e organizações a se queixarem da invisibilização de suas experiências em um debate essencialmente sobre racismo.

Paula Cardoso, jornalista e fundadora da rede Afrolink, foi uma das primeiras a denunciar a situação, classificando a postura da universidade como “insultuosa”. Segundo Cardoso, a remoção do curso do site da instituição, nesta terça-feira (15/10), foi uma tentativa de esconder o erro sem reconhecer o impacto causado. “É como uma organização pelos direitos das mulheres composta só por homens”, declarou, ao comentar o fato de que um curso sobre racismo foi planejado sem a participação de pessoas não brancas.

A jornalista também questionou o nome da pós-graduação, considerando-o “profundamente infeliz” e reforçou críticas ao conteúdo. Para ela, o módulo que questionava a existência do racismo não poderia ter sido idealizado por alguém que compreende o assunto de verdade. “Isso é ignorar o pensamento negro, nossa opinião. Estamos sempre sendo invalidados na hora de pensar e decidir”, completou.

A Faculdade de Direito, por meio de sua decana, Margarida Lima Rego, respondeu às críticas, reconhecendo a falha na diversidade dos professores. Ela afirmou que a universidade havia se esforçado para recrutar docentes com diferentes origens, mas não conseguiu preencher essas vagas a tempo do início do curso. “Foi uma falha interna, e a Universidade Nova já está tomando medidas para que isso não se repita”, afirmou Lima Rego.

A jornalista Paula Cardoso também lamentou que as contribuições de pessoas negras, quando aceitas, muitas vezes não são remuneradas. “Quando chega o momento de reconhecer a especialização com remuneração, as pessoas negras não são pagas. Isso é o racismo estrutural em Portugal”, declarou.

Embora o cancelamento do curso tenha provocado um debate público sobre a questão, o Observatório do Racismo e Xenofobia não se pronunciou oficialmente. Para Cardoso, a situação deve servir de aprendizado para a instituição e outras organizações que ainda ignoram o imenso conhecimento disponível entre especialistas negros, tanto em Portugal quanto em outros países.

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