Escritores e intelectuais brasileiros fazem curadoria de coleção de autores africanos
Kabengele Munanga, Edson Lopes Cardoso, Sueli Carneiro, Tiganá Santana e Luciane Ramos-Silva, estão no conselho de orientação da Biblioteca Africana, da Zahar e Edições Sesc
Foi lançado ontem (07/11) no Sesc Vila Mariana em São Paulo a coleção Biblioteca Africana, produzida pela Zahar e Edições Sesc que trás no Conselho de Orientação nomes como Kabenguele Munanga, Edson Lopes Cardoso, Sueli Carneiro, Tiganá Santana e Luciane Ramos-Silva. A coleção tem por objetivo publicar obras não ficcionais de autores africanos e assim disseminar o pensamento deles no Brasil.
As duas primeiras obras são MITO, LITERATURA E O MUNDO AFRICANO, do premiado Wole Soyinka e SOBRE A “FILOSOFIA AFRICANA”, de Paulin J. Hountondji.
Segundo os coselheiros da coleção, “algo essencial de nossa história e de nossa identidade vêm de África. Sua diversidade linguística e cultural, suas formas de organização política, suas matrizes científicas, filosóficas e espirituais, estão presentes em nosso dia a dia, apesar dos sistemáticos e violentos esforços de negar a intensidade dessa presença”
Acrescentam ainda que “é necessário aguçar nossa percepção sobre esse imenso repertório, tarefa urgente e fundamental. Os grandes impasses políticos, econômicos e ambientais com os quais nos deparamos hoje são um apelo adicional, na medida em que tornam evidentes os sinais de esgotamento do repertório intelectual e ético do chamado Ocidente”.
MITO, LITERATURA E O MUNDO AFRICANO
Wole Soyinka
Mito, literatura e o mundo africano é um livro pioneiro para o conhecimento das epistemologias africanas. Exibindo erudição enciclopédica, notável sofisticação conceitual e um senso crítico mordaz, Wole Soyinka — primeiro escritor africano a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1986 — elabora aqui o que ele chama de “autoapreensão do mundo africano”.
Publicado originalmente em 1975, a obra é fruto de uma série de palestras ministradas em Cambridge. Trata-se de uma densa análise da história, literatura, mitos e rituais iorubás cujo fito é apresentar a mitologia africana como um complexo sistema de pensamento, um rico repositório de saberes, valores civilizatórios e, sobretudo, um coeso horizonte normativo (ético, moral e estético) que orienta a vida coletiva. O resultado é uma obra-prima, que se tornou um clássico no estudo das relações entre a visão de mundo africana e o cânone intelectual ocidental.
Apesar dos fortes laços que a unem ao Brasil, a imagem geral que temos de África ainda é a de um continente distante e quase desconhecido. Soyinka nos oferece ferramentas indispensáveis para realizar a tarefa urgente de aguçar nossa percepção — e ampliar nosso conhecimento — sobre o repertório intelectual africano e, assim, reposicionar a importância de seu legado para nós.
“Neste livro seminal, Soyinka explica os deuses iorubás como figurações simbólicas da linguagem, atos de literatura, metáforas e alegorias, à maneira como entendemos os deuses gregos. Em outras palavras, ele vira o jogo: revelando a extraordinária riqueza do panteão iorubá, permite que este seja o ângulo a partir do qual enxergar a literatura europeia clássica.” — Henry Louis Gates Jr.
WOLE SOYINKA nasceu em Abeokuta, na Nigéria, em 1934. De origem iorubá, foi o primeiro escritor africano a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1986. Sua obra é vasta, abrangendo ficção literária (adulta e infantil), poesia, dramaturgia, memórias e ensaios. Ocupou a cadeira titular de literatura comparada da Universidade de Ifé (1975-1999) e foi professor visitante em universidades como Cambridge, Sheffield e Yale.
Ficha técnica:
Mito, literatura e o mundo africano, Wole Soyinka
Tradução: Karen de Andrade
Número de páginas: 232
Preço: R$ 79,90 | e-Book: R$ 29,90
SOBRE A “FILOSOFIA AFRICANA”
Crítica da etnofilosofia
Paulin J. Hountondji
Primeira edição brasileira de um dos maiores clássicos do pensamento africano, Sobre a “filosofia africana” é um convite para o engajamento crítico com o trabalho de estudiosos africanos num mundo moderno que tanto se sustentou na negação racista da capacidade intelectual de pessoas negras. As aspas no título não são um detalhe, pois simbolizam um olhar que coloca sob suspeita a ideia de uma filosofia africana produzida a partir de lentes eurocêntricas.
Desenvolvendo uma contundente crítica à etnofilosofia, baseada na suposta existência de um pensamento coletivo africano, Paulin J. Hountondji defende a passagem da África-objeto para a África-sujeito, de modo que a filosofia africana nada mais que é “o conjunto de textos produzidos por africanos e qualificados como filosóficos por seus próprios autores”.
Assim, o que está em jogo no uso do adjetivo “africana” não é um sentido essencialista, mas a busca pela afirmação de um protagonismo negro-africano na filosofia que não está submetido aos ditames de uma ciência eurocêntrica. Ao longo do livro, o autor põe em prática sua visão ao dialogar criticamente com Aimé Césaire, Kwame Nkrumah, Leopold Senghor, Anton Wilhelm Amo, entre outros.
Sobre a “filosofia africana” é um marco incontornável e um divisor de águas sobre a pesquisa, a legitimidade e os impactos políticos daquilo que fazemos com as filosofias africanas, seja no próprio continente negro, aqui na diáspora ou em qualquer outro lugar do mundo.” — wanderson flor do nascimento
“Um filósofo cuja crítica à era colonial da antropologia ajudou a transformar a vida intelectual africana, rebelando-se contra os esforços de submeter modos africanos de pensar a uma visão de mundo europeia.” — The New York Times
PAULIN J. HOUNTONDJI (1942-2024) nasceu no Benin. Foi o primeiro estudante africano de Filosofia na Escola Normal Superior de Paris e trabalhou como professor na Universidade Nacional da República de Benin. Foi também Ministro da Educação no Benin. Sobre a “filosofia africana”, eleito um dos cem melhores livros africanos do século XX, ganhou o Herskovits Prize em 1984.
Ficha técnica:
Sobre a “filosofia africana”, Paulin J. Hountondji
Tradução: César Sobrinho
Número de páginas: 344
Preço: R$ 89,90 | e-Book: R$ 29,90
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